As luzes de Porto Alegre despertaram minha curiosidade de menina do interior. O efeito dos neons, semáforos e luzes quentes em movimento, desde cedo avisaram meu cérebro de um mundo novo a descobrir. E que, se eu estava sempre de passagem, ainda ganharia as luzes do saber na Capital. Mas até chegar à faculdade tive uma vida e, não raro, eu adolescente me pegava desejando uma fila de carros, qualquer coisa que iluminasse a noite de Rosário.
Quando enfim ascendi a Porto Alegre, voltava para o pensionato com as amigas ao anoitecer. Passávamos pelo viaduto Imperatriz Leopoldina na João Pessoa, por cima da Perimetral. E no limite entre Cidade Baixa e Bom Fim, olhando para frente, tive as luzes da cidade aos meus pés. Inspirei fundo, sorri e… ah, expirei dezesseis anos de espera. A partir de então, a cidade inteira estava a meu dispor.
Em Porto Alegre, aprendi a segurar a pasta dos outros quando conseguia lugar no Campus-Ipiranga, e a deixar a minha no colo de alguém ao pegar o ônibus lotado. No Campus-Protásio, fui obrigada a tolerar o cheiro de bergamota no fundão. Foi assim que cursei Letras na UFRGS. Um homem alto puxou a cadeira para eu passar no Antônio do Campus do Vale, e me ofereceu marzipã na Maomé na tarde em que nos conhecemos. Foi assim que depois me casei em Porto Alegre. Jardim do Salso, Cavalhada, Teresópolis – qualquer bairro era bairro para eu dar aulas particulares de inglês. Deve ter sido em um colégio na Azenha que prestei o concurso público do TRF4, que propiciou meu primeiro emprego em Porto Alegre. E com o salário inaugural comprei o vestido da formatura em Direito na PUC.
Os oito anos que morei na cidade foram intensos. Em meio a batalhas, liberdade e anonimato desejados, conquistei os eventos mais determinantes da minha biografia. E se já de longe escrevi meu nome com calma no sobrenome dos filhos, nas minhas petições, em algum bem, na capa de um livro; e se às vezes retorno para me ilustrar, devo esse tributo a todas as luzes de Porto Alegre.