Perfume de uma alma perdida

Na bolha de sabão guardei meus sentimentos.

Na bolha de sabão deixei minhas dores.

Na bolha de sabão depositei minhas esperanças.

Na bolha de sabão inventei minha alegria.

Deleitei-me na sua maciez extravagante, no seu cheiro inebriante, na sua essência bivalente. Saltei de bolha em bolha na busca do para sempre, mas só encontrei não sei. Deixei-me escorregar na sua lisura transparente e penetrante.

Enquanto ela voava, eu corria para alcançá-la, mas o esforço foi em vão. Esgotei minhas forças, arfei como se fosse o último respiro.

Quando parei, ela voltou. Chegou devagar com seu perfume de jasmim. O aroma delirante penetrou na minha alma sem pedir licença, simplesmente entrou. Estava fascinada, não piscava, não respirava.

Depois de tudo isso ela explodiu, derramando sobre mim um arco íris de emoções ambivalentes e torturantes. Deixou minha alma sangrenta, incurável talvez.

Decepção e desânimo tomaram conta do meu corpo. Agora era a minha vez de formar bolhas, não de sabão, mas de lágrimas, porque todas já estavam furadas pelos espinhos da rosa que um dia foi perfumada.

Gotas de sangue misturam-se com as lágrimas que cobrem algumas bolhas que, timidamente, persistem em manter-se no ar. Mas que ar? Onde elas estão que não enxergo? Fiquei cega. Fiquei inerte, entorpecida e amargurada.

Olho ao redor e percebo tudo etéreo:

– Cadê a bolha de sabão?

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