De salto e barbicacho

Dizem que gaúcho não costuma levar desaforo para casa. No passado duelavam por qualquer fato, desde a honra até para desposar uma dama. Inadmissível uma atitude dessas nos dias atuais, mas tenho certeza que muita gente já quis voltar ao passado para duelar com seu algoz.

Por pouco não entrei no túnel do tempo alguns anos atrás. Estava eu, no aeroporto do Rio de Janeiro, esperando o avião para Porto Alegre, com previsão de decolagem às oito horas da manhã, quando um casal sentou atrás de mim e, pelo colóquio que mantinham, pude perceber que eram amigos ou colegas.

Na hora prevista para embarque, foi avisado que o voo estava atrasado por conta da cerração no aeroporto Salgado Filho. Foi o que bastou para que essa senhora soltasse sua verborreia contra a nossa querida cidade com o pôr do sol mais lindo do mundo.

No momento em que escutei tais impropérios, meu sangue subiu indo até a pontinha do meu cabelo. E quando ela disse que o porto-alegrense era um povo mal educado, tive esperança de conseguir voltar no tempo e duelar como se eu estivesse na guerra dos farrapos. Infelizmente meu Gênio da Lâmpada estava de férias e não atendeu o meu pedido. Restou-me apenas levantar e sentar em outra poltrona bem longe dela.

Mais calma e dentro do avião, fiquei lembrando das palavras proferidas sobre nós. Diria que em alguns aspectos ela estava correta mas, como porto-alegrense, não gosto que falem mal do meu rincão, afinal o gaúcho não leva desaforo para casa – nesse caso eu levei porque não vivo no século retrasado.

Para nós, o Rio Grande do Sul é igual a um filho. Somente nós podemos apontar os defeitos, os de fora que peguem seus cavalos até o final dos pampas atrás de novas querências.

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