A menina e o parque

O carrinho rodava no trilho circular e a menina girava a direção, dominando a técnica. Ela queria ser grande, mas na metade da volta, olhava para o pai que lhe sorria, a confirmar sua habilidade. Respirava séria e caprichava na próxima manobra. Desceu contente do brinquedo, coroada rainha do automobilismo. Ao redor, tudo era colorido: vermelho, rosa, amarelo, verde. Sem falar nas bolhas de sabão que compraram. Ela soprava, soprava, e as bolhinhas proliferavam-se. Seus pais ficaram chocados porque a diversão acabou rápido. Mas valeu muito para a menina.

A parada na Redenção foi promessa cumprida no caminho entre Rosário e a fazenda em Viamão. O ponto alto das férias para a menina, cujo maior prazer infantil era a visita anual de um parque de diversões à sua cidade, mais do que a chegada do circo que a mãe adorava. Elas conversavam:

– Eu não sei por que gosto mais de parque que de circo.

– Ah, o circo tu só assistes e no parque tu brincas.

Na primeira vez que a menina saltou num balão pula-pula em Pelotas, era uma astronauta na lua. E quando se deitou na piscina de bolinhas da inauguração do Iguatemi em Porto Alegre, foi massageada por drágeas de carinho. Aos doze anos, ficou com certa vergonha, mas como a humanidade inventou colchão tão macio?

A adolescente foi estudar na Capital, morando nos arredores da Redenção. Não comeu melança na Redença como dizia o Magro do Bonfa, mas bebeu cerveja na Redença, livrou-se de ser violentada, e até namorou o marido ali.

A jovem senhora mudou-se de cidade, procriou, e levou a prole para conhecer o parquinho da Redenção, que trocara de local, recauchutado e chique. Os meninos andaram no minhocão verde, abanando para a mãe, que depois os levou sorrindo ao vaivém laranja da praça ao lado. Em Rosário, não havia vaivém. A mãe andou junto e perguntou se a avó queria:

– Não, obrigada. Eu já tive infância.

A mãe ficou sem graça, mas jamais deixou de se meter nos kidplays com o primogênito, que deu os primeiros passos, aos dez meses e dez dias, no parquinho do shopping perto de casa. No segundo menino, a mãe estava mais madura.

Agora, se tiver netos, alguém duvida que esta avó se enfie nos brinquedos?

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