Volta aqui

A parte mais bonita é a de voltar. Não que os passeios sejam tristes, na verdade são tempos felizes de encontros e de descobertas. Alguns em ritmo de trabalho, outros com um tom de veranico. Me vou sempre voando as tranças, com o direito de respirar outros ares e sentir outros gostos. Diferente do coro quase unânime de: como passa rápido, eu vibro tanto com a volta, como a ânsia do já evidente final feliz de último capítulo da novela. Há um grito dentro de mim: Terra à vista!

Chegar em Porto Alegre me faz acordar de um sono profundo. Cheiro de ar úmido que entra pelo meu nariz e me obriga a abrir os olhos para ver pela janela do carro se há algum navio ancorado com meu nome dizendo: Carolzita, eu também aportei! Quando estou acima das nuvens, me alegro no aterrissar olhando as voltas que as águas fazem, como um desenho de estradinhas turvas de serpentes. É a sabedoria de ter um lugar seguro para pousar, como os sabiás, as garças e as pessoas que querem voltar logo.

Mas nem sempre foi assim. Quando eu era criança por fora – que ainda sou por dentro – eu passava as férias com a minha família no interior e, pasmem, não queria ir embora. Dia de fazer as malas era de choro, febre, desmaios, pedidos para a minha tia me adotar e todos os outros subterfúgios. Nunca adiantou. O coro de primos mais velhos, ao fundo, cantarolava uma música terrível com abanos insensíveis ao ver minhas lágrimas pela janela do ônibus: “Deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre e tchau”.

Por um bom tempo tive pânico de Kleiton e Kledir. Eles assombravam meu imaginário com essa canção cruelmente desenvolvida para ser repetida em meus ouvidos. Certamente treinaram meus primos para aprender logo o refrão tocado diariamente na Rádio Santiago. Suava frio e trocava de estação. Até hoje não gosto muito. Música traumatiza.

E eu que cresci não querendo ficar, que achava que esta nunca seria a minha cidade, que demorei para abraçá-la e resisti aos seus encantos batendo o pé no chão e com as mãos na cintura, posso agora dizer: Quem vai embora, tem que saber, é viração.

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