Um outro olhar

Ao andar pelas ruas, avenidas e parques de Porto Alegre nos deparamos com algumas esculturas, monumentos, grafites e pinturas que nos prendem o olhar. Algumas dessas obras artísticas a céu aberto são belas, outras nem tanto. Ainda há aquelas que, por serem muito instigantes, nos fazem pensar. Para mim, na maioria das vezes, basta agradarem aos meus olhos, serem bonitas, dizerem algo que toque o meu coração, fazendo-me refletir.

Foi assim que avistei a imensa pintura de uma mulher negra na parede lateral de um prédio localizado no bairro Cidade Baixa. Fiquei intrigada com a grandiosidade e com o colorido da obra. Minha curiosidade foi aguçada para saber quem era a figura estampada lá no alto da construção e que me olhava de “rabo de olho”.

Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que se tratava de um homossexual assumido nos anos 1970. Nunca ouvira falar: a Nega Lu! Personagem peculiar e irreverente que rompeu as barreiras sexuais, morais e sociais daquela época, cujo nome registrado na certidão era Luiz Airton Farias Bastos.

Falecida em 2005, era frequentadora da famosa Esquina Maldita, cantora, bailarina, participante ativa da cultura boêmia porto-alegrense dos anos 1970, 1980, 1990. Carnavalesca, madrinha e porta-estandarte da Banda da Saldanha do bairro Menino Deus. Fez história nessa cidade com seu comportamento e atitudes. O protagonismo exercido por ela naquele tempo, só foi por mim conhecido ao ver esse grande mural artístico.

A arte, além de ser uma forma de expressar o sentimento do autor e de homenagear alguém ou algo muito importante para ele, é também uma maneira de chamar a atenção da sociedade de que existem determinados comportamentos e modos de vida fora dos padrões em que estamos acostumados e inseridos. A partir daí nos damos conta que o mundo é muito maior do que imaginamos ou pensamos que sabemos.

Pela cultura e a arte de um povo, encontramos outras realidades e dimensões. Podemos muitas vezes não concordar ou não apreciar. Porém, temos obrigação de pensar, questionar e aceitar. Afinal, a tolerância e o respeito às diferenças fazem parte da liberdade.

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