Um estrangeiro no sinal vermelho

No trânsito de Porto Alegre perde-se muito tempo num simples deslocamento.

E nos semáforos, inúmeros espalhados pela cidade, você encontra diversas pessoas, com o mesmo cartaz: estou com fome.

São tantos, que nem nos compadecemos mais. Aquele ser humano faminto já não nos sensibiliza. Alguns, infelizmente, querem dinheiro para aquisição de drogas. Mas como suportar as baixas temperaturas no nosso inverno, dormindo na rua, sem uma “alucinada” de vez em quando? É o que fico pensando…

Uma amiga estava parada no sinal vermelho, numa tarde qualquer, com os vidros abertos, já que o clima estava agradável.

Eis que um homem de uns quarenta e poucos anos, muito magro, roupas e tênis surrados, posiciona-se na calçada e diz, dirigindo-se a ela:

Can I cross the street?

Ela, surpresa com o inusitado da pergunta, responde com um “yes” quase inaudível.

Is it safe? Ele continua.

Yes, you can go, ela responde.

She speaks english very well! Ele diz, aos gritos, abrindo os braços e um largo sorriso, bem em frente ao seu carro. E, aproximando-se da janela, pergunta:

Do you have a coin?

No, I don’t have. Sorry, disse ela, constrangida.

Ela se sentiu a última das criaturas por não ter moedas. Realmente, não tinha nenhuma consigo.

I’ll come back another day, ela falou, tentando justificar-se, não acreditando que estava conversando em inglês com um morador de rua.

Ele voltou para a frente do carro dizendo em voz alta as letras e números da placa, deixando claro que não esqueceria dela numa próxima oportunidade. E ela arrancou seu carro assim que o sinal abriu.

Bye!

Quando ela me contou este fato, fiquei pensando o que teria acontecido com este homem para estar ali pedindo dinheiro daquela forma. Que situações o fizeram morar na rua? Provavelmente teve acesso à algum tipo de educação, pois falava bem o inglês. Embora tenha dito cada frase pausadamente, parecia saber o que estava dizendo.

Será que alguém o ensinou somente com o intuito de ser engraçado e com isto cativar os motoristas?

Ou teve uma vida com estudo, casa, emprego, família e por algum capricho do destino perdeu tudo?

Ou simplesmente desistiu?

Não concordo com pessoas que dizem “eles gostam de morar na rua”.

Duvido.

Ninguém gosta de passar frio, fome e dormir ao relento. Estão lá por absoluto desencanto com a vida. Perderam a esperança.

Não sei o que levou este nosso personagem a estar ali, mas não consigo deixar de pensar nele desde que soube de sua atuação na sinaleira e a criatividade que lançou mão para ganhar seus trocados.

Oh, my God.

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