Já trilhei muito. Estradas, ruelas, faixas de chão batido. Há dias em que avanço quilômetros. Em outros, nem tanto. De vez em quando, preciso descansar e me recolher em mim mesma. Retornar e renovar.
Pequena, recém dando passos trôpegos, querendo me equilibrar, recordo do papo me entregando uma bola colorida, leve.
Foi no pátio de nossa primeira casa em Porto Alegre, na Rua Felix da Cunha. Lá tinham trilhas e mais trilhas. Canteiros de flores e árvores, intercalados. Davam sombra. Facilitava o trilhar.
Eu, de macacão e camiseta, braços estendidos, mãos pequeninas abertas, prontas para receber a bola. Chiquinhas no cabelo. Olhar atento no rosto redondo. Curiosidade misturada com expectativa infantil. Essa que não gera frustração, pois a inocência é renovadora. Tudo novo. Bem vindo. Não havia temor.
Segurei a bola. Meu pai me apoiando. Observava meus passos. Pai, papo. Retaguarda. Trilhou comigo a partir daquela bola.
Essa imagem está gravada numa foto, em preto e branco, postada ao lado da minha cama, onde sonho e planejo ludicamente meus próximos passos, as trilhas que ainda me esperam.
Surpresas.
Bolhas lacradas ou trilhas extensas e sem fim determinado. Basta avançar, um passo após o outro, com inocência infantil. Experiência sentida e praticada.
Pai e mãe passam a bola, mais cedo ou mais tarde.
Bolas e bolhas.
Sabedoria. Já trilhei muito. Muito trilharei.
Uma retrospectiva no tempo, no encantamento da infância, em sua trajetória. Bravo, Luca ! Pura sensibilidade
Lindo e comovente texto! Lembrou-me da criança que fui e que sempre estará comigo! Agradecida!