O desabafo de uma cã

Oi! Aqui estou eu, dedilhando, com minhas patinhas, meu desabafo. Por escrito, porque não tenho voz. Só sei latir e meus latidos são incompreensíveis aos humanos. Mas eu preciso falar, como vocês dizem.

Hoje, brigaste comigo. Fiquei triste. Não entendi direito porque fizeste isso. Eu não quis fugir de ti. Juro. Só queria explorar o mundo. Era um lugar diferente, com amigos diferentes, cheiros diferentes e desafios diferentes.

Entenda, eu sou apenas uma cã. Ok, sei que já tenho três anos, mas tenho direito de ter rebeldias de vez em quando. Afinal, quem não as tem?

Veja, bem. Eu passo o dia todo ao teu lado. Espero, pacientemente, a hora de passearmos. Quando sais de casa e me deixas sozinha, não sei a hora que voltarás. Sempre dizes que já voltas, mas às vezes me mentes e demoras. E muito. Fico triste. Então eu durmo. Durmo na sala porque sei que é por onde entras e quero te ver chegar para pular em ti e te lamber. Ah, e te cheirar para saber por onde andaste.

Não posso me queixar que desde que fostes me buscar, até hoje, só passamos um final de semana separadas, e isso é muito bom.

Sabe, nós cães, não temos vida longa, já estou crescidinha e tu já não és tão jovem. Aliás, acho até que já és velhinha pelos teus cabelos brancos. Mas te amo mesmo assim, tá?! Espero envelhecermos juntinhas, aguentando mutuamente, nossas chatices.

Sempre te fiz companhia, nos bons e maus momentos. Sei quando estás triste, por isso quero sentar ao teu lado, para te confortar. Nesses momentos fico chata, batendo minha patinha na tua perna ou no braço, mas é que quero te dar carinho.

Só que hoje, EU que fiquei triste. Confesso que escutei, sem querer, óbvio (sqn), que irás viajar e me deixar. Isso, confesso, me preocupou. Onde ficarei? Quanto tempo ficaremos separadas? Para onde irás? Me separar de ti dá medo. Irás mesmo viajar ou me abandonar?

Mamãe, não me abandone, eu prometo me comportar! Eu posso ir junto?

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