Tenho muitos bons momentos vividos na Casa de Cultura. Ela foi fundada em 1982, e no final dessa década comecei a participar do Coral da Casa. Fazia tempo que não cantava, e foi bom encontrar um grupo com coragem para tentar voos diferentes, não restritos aos cuidados com a técnica e o aperfeiçoamento vocal. O grupo era harmônico, com vozes que se uniam como um coro único, afinadas e carregadas de emoção.
Fazíamos muitos recitais, alguns em horários normais de trabalho. Lembro que, por trabalhar ali pertinho, várias vezes abri mão do horário de almoço para poder, numa terça-feira às quatro da tarde, sair para cantar. Os colegas achavam engraçado quando eu avisava: vou ali cantar um pouquinho e volto logo!
Em 1994, nos juntamos a um grupo de danças e a músicos instrumentistas e preparamos um espetáculo muito bonito, com poemas musicados do Mario Quintana e do Fernando Pessoa. Foi o Lusitânia e Brasileirices, que nos levou a Portugal, para a inauguração do novo teatro de Coimbra. Ficamos lá por cerca de duas semanas e, após a temporada, cantamos também em outras cidades, como Figueira da Foz, Porto, Lisboa. Na volta a Porto Alegre, gravamos um CD ainda sob o nome da Casa. Mas questões burocráticas terminaram por nos afastar da Casa de Cultura e criar um novo grupo, que não sobreviveu muito tempo. Mas isso é outra crônica.
Para além da experiência de convívio e da proximidade com lugares que fazem parte da história brasileira, o que marcou para sempre a vida do grupo foi essa convivência diária em terra estranha, que nos fortaleceu e selou uma amizade que continua até hoje, embora com a ausência de alguns: o Raul sumiu, a Thelma morreu, a Tatiana foi pra Barcelona…
É essa a imagem que conservo até hoje da Casa de Cultura: um local onde podemos nos entregar a um convívio voltado à arte e a experiências afirmativas.