Ma(r)jestade

O mar. Uma baía. Um lago. Tanto faz. Importa que seja grande para não ver o outro lado. Suas águas verdes ou azuis nos acalmam. Nos levam à reflexão. Meditação. O movimento que desenvolvem nos induz à uma certa tranquilidade, a não ser nos dias tempestuosos. Neles, as águas e os ventos nos dão ideia da força da natureza.

Me criei na beira do mar. Em vez de florestas e montanhas tive o mar como paisagem. Conheci na prática o lado pesado e o tranquilo de suas águas. Por cima d’água e por baixo dela. Assim como a vida se manifesta entre nós. Então, sentar solitário nas suas margens para mim sempre implicou em acalmar a mente, e refletir sobre o mundo.

Creio que olhar a linha do horizonte e não perceber seus limites, se tornou a primeira lição inconsciente que tive quando muito criança. O mundo é muito grande em relação à nossa pequenez. E a segunda foi a de que, por baixo daquela placidez que assistíamos, situam-se outras formas de vida que não podemos imaginar. Muito selvagem e violenta, às vezes. Mas também, muito rica e leve noutras. Então me veio a compreensão de que a vida se constitui de um processo muito complexo, que vai muito além da minha compreensão – que foi domada pela lógica cartesiana.

Por cima d’água existe outra civilização. Além das baleias que às vezes passavam bem longe, em busca de águas mais quentes para parir seus filhotes, tinham os pescadores em suas jangadas. E os navios que singravam ora para o sul, ora para o norte. Iam para onde, e vinham de que lugar? Transportavam o quê? Qual a história destas embarcações? E as pessoas que operavam dentro delas. Cada um deles deveria ter uma narrativa própria, que muitas vezes não se enquadrava nos limites da sociologia que eu carregava. Muitas interrogações a partir de um quadro aparentemente frio. Distante.

Assim eu via o mar. Majestoso. Respeitável!

Nas suas margens, outro tipo de vida. Dominado pelos seres humanos. Algumas vezes assisti pequeninas tartarugas saindo de buracos na areia em direção ao mar. Buscando completar outro estágio das suas vidas. Conduzidas por instinto, ou talvez por outra bússola. Pessoas jogando bola. Outras tomando sol. Alguns pescando. Coisas boas! Mas também coisas ruins. Perdi amigos afogados. Ajudei salva-vidas a resgatar outras.

Assim é o mar. Tem suas leis próprias. Na maior parte das vezes apenas curtimos o seu lado plácido. Leve e calmante. Mas na sua verdade, está regido por uma dialética complexa da vida marinha. Esta, na verdade, equivale a da nossa vida social. Êta mundinho complicado meu Deus!

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