Lado B, lado A

Gente da noite, que não liga preconceito,

tem estrelas na alma e a lua dentro do seu peito”

Túlio Piva

Toda cidade tem sua história: fundação, primeiros moradores, emancipação, essas coisas que lemos nos livros. Interessante, claro, mas o que mais gostamos de saber é vamos dizer assim: o lado B. Porque são essas as passagens mais curiosas e divertidas, do dia a dia da cidade.

Toda boa história tem pelo menos um bom personagem. Uma grande cidade esta cheio deles. Alguns anos atrás, por exemplo, o gari Renato Sorriso ficou famoso no Carnaval carioca por sambar enquanto limpava a avenida.

Aqui em Porto Alegre também temos alguns personagens marcantes. Um deles é o Toniolo. O famoso pichador deixou seu nome gravado em diversas paredes da cidade, até que um dia prometeu com data e hora marcada pichar a sede do governo estadual. E, pasmem! Mesmo com a polícia de plantão o esperando, ele conseguiu. Em partes, faltaram as letras L e O.

Acredito que a noite nos reserva os melhores personagens, pois é onde as pessoas mais facilmente se revelam. Quem anda pela região boêmia nos últimos quinze anos, já deve ter passado por um louco correndo só de sunga, mesmo naquelas geladas noites de inverno. Pouco antes da pandemia, me deparei com ele frequentando, bebendo e cantando de sunga num dos meus endereços preferidos da cidade. O Bárbaros na Ramiro Barcelos.

Alguns anos antes frequentava o Parangolé ali na Lima e Silva, quase na perimetral. O bar do seu Cláudio, além de cervejas, entre outras bebidas e diversas opções de petiscos, se caracterizava por ter música ao vivo. Confesso que rockeiro que sou, o samba, os boleros, choros no começo não me chamavam muito a atenção. Mas notei que nas quintas um mesmo senhor tocava. Era o professor Darcy Alves, que tocou com Lupicínio Rodrigues, um dos importantes nomes da música brasileira, que nasceu e fez sua carreira em Porto Alegre. O seu Darcy não faz jus ao rótulo de plano B, mas a geração universitária que frequentava o bar, não reconhecia estar de frente para um dos grandes músicos e boêmios da cidade.

Agora em 2021 outro desses personagens foi homenageado com um grafite ali na Lima e Silva: A Nega Lu, um negro homossexual que fez história na noite porto-alegrense, em homenagem organizada pelo Nuances, grupo de defesa dos direitos de cidadania da população LGBTQIA+. Dizem que, certa vez, dançava em cima de uma mesa, com o público presente gritando seu nome em uníssono. Achou que estava arrasando. Até poderia estar, mas a razão dos gritos era por estar quase sendo degolada pelo ventilador de teto. Nega Lu também era presença confirmada nos desfiles da Banda da Saldanha no carnaval da cidade.

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