Ao desembarcar na estação central de Stuttgart, decidiu ir caminhando pelo parque em direção a casa do seu avô, Hans.
Era final de novembro. As nuvens cobriam a cidade e, como em uma foto em preto e branco, aquele sábado tinha uma outra luz. Havia uma claridade diferente, uma beleza nostálgica.
Ao passar pelo parquinho, observou as crianças cruzando entre os brinquedos feitos em madeira e cordas. Sentou-se no banco para ver a movimentação e lembrou com carinho todas as vezes que ali esteve acompanhado pelos seus avós paternos.
Seguiu em direção a estação Marienplatz. Lá pensou na possibilidade de entrar no trem. Desistiu. Queria voltar a apreciar a cidade a partir de um dos seus pontos mais altos e sem pressa. Confiou na força de suas pernas.
Na subida verificou os terrenos cobertos pelas vinhas, a arquitetura das casas novas e antigas e reconheceu alguns dos seus pontos prediletos.
Finalmente, chegou ao chalé do seu avô. Desde que ele partiu, não tinha tido coragem de retornar ao local.
Com cuidado, abriu a porta daquela casa repleta de recordações. Havia prometido a família que iria passar uns dias lá para verificar que peças e móveis poderiam ficar e quais seriam doadas.
No hall de entrada, enquanto preparava-se para retirar os calçados para trocá-los pelos chinelos, reconheceu o par de sapatos que sempre foi usado pelo avô nas suas longas caminhadas. Hans era um amante das trilhas e da natureza. Essa paixão ele havia herdado. Naquele momento, ficou claro o que ele faria questão de manter como lembrança: aquilo que lhe tocava diretamente o coração. Os dias seguintes prometiam muitas emoções.