Estórias do vento

Aquele banquinho, debaixo da “minha árvore” era meu paraíso. Nos dias cinzentos, no sol de queimar coco e nos dias de chuva, não me aperreava. Era meu lugar de ficá sussegada, sem azougue.

O bom mermo era os dias de ventania. Com os olho perdido nas montanha bem lonjão ficava misturada no vento, nos assovios, nas ideia da minha cabeça do que vinha depois de lá.

O povo tinha medo daquela igreja de pedra abandonada de frente. Falavam de umas istoria de arrepiá os cabelo. Eu? Num apoquentava não. Ali era bão.

Vez em quando o gado do Nhô Silvério rompia a cerca e vinha pastá naquelas bandas. Era boi demais para darem farta. Os home custava a aparecê. Eles não bulia comigo. Pensavam que eu não batia bem das ideia.

– Uma menina ficá assim sentada olhando pro nada. Deve de ter parte com o demo. Menina esquisita.

Falaram isso passano perto. Eu num me acossava. Achava inté melhor. Gostava que num se achegassem mermo. Queria ficá na minha pazcom a dança do vento nas folhavino contar segredos pra mim.

Quando chegava na tapera, esperava todo mundo dormi , pegava o lampião e escrevia até as vista ardê. De um jeito meio torto, meio estranho, mas eu achava bunito e gostava de ficar lendo repetido. Me levava pra longe da lida, dispois das montanhas, num mundo cheio de coisas que eu nem conhecia. O peito enchia de coragem e me dava uma coisa de sabê, que as istória que o vento assuviava no meu ouvido não ia ficá presa naquele fim de mundo.

Ah! Isso não ia não!

1 comentário em “Estórias do vento”

  1. Paula Dauster Pontual Carvalho Braga

    Uma contadora de “estória” e “história”, tão queria. Leveza e simplicidade ao escrever.
    Amor…

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