Despedida

Grandes metrópoles espelham a humanidade. São tão complexas como cada ser humano em si mesmo. Únicas, mas com pontos nevrálgicos universais. Todas, em maior ou menor grau sofrem com as mazelas das aglomerações. Excessos que geram poluição. Do ar, sonora, visual. Excesso de distâncias, de trânsito, de perda de tempo, de filas e de pessoas. Pois sim, gente demais, penso eu, também é poluição.

Mas também guardam encantos, reúnem diversidades, assombram pelo tamanho, movimento, inquietação e funcionalidade. Vivem e sobrevivem desordenadamente, com belezas e feiuras a depender do desenvolvimento socioeconômico e expressas nas cores das desigualdades e das almas. A violência que se amplifica nas metrópoles é reflexo sombrio da imensidão. Delas e do humano.

A contemplação nos permite mais do que ver. E avistar a cidade de longe e do alto, seja de uma varanda, avião ou belvedere, assim nos enleva. Ela se mostra com todo o seu glamour, em unicidade, como um ser vivo e concreto. As ruas matizadas pelas cores refletidas no cinza do asfalto, no verde da grama, no céu azul-acinzentado do anoitecer, mesclam-se em tons arroxeados e vermelhos feito veias. A circundam, penetram e transpassam. Levam e trazem a massa pulsante da vida.

No cerne da cidade, os pontos de luz nas janelas. A vida de cada um. O homem tão pequeno em meio ao seu gigantismo. O conjunto dos prédios e a abóbada da catedral bordam o contorno seu corpo. E o céu no horizonte, em sua infinita finitude, a emoldura. Beleza que me faz refletir: intersecções, pertencimentos, interdependências, micro e macrocosmos.

Uma das tantas imagens inesquecíveis da pandemia em 2020 foi a visão, na TV, das grandes metrópoles do mundo, vazias. Paris, Roma, Londres, Nova York no abandono de sua beleza impávida. O silêncio do vazio. O mesmo silêncio, pleno, da inefável hora. O efêmero e breve momento da passagem. Sinto-o na solenitude das cores da transição ‒ dia e noite misturados. O instante já, que acaba em si mesmo. A exata medida do tempo atemporal

O encontro da morte e sua poesia

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