As bolhas não são mais de sabão

Houve um tempo em que nossas divergências dividiam-se entre: Grêmio ou Inter, teísta ou ateu, amante do inverno ou do verão, fã da Jennifer Aniston ou da Angelina Jolie. Esta época amena, de intensas e mixurucas polêmicas, ficou para trás e, ao que tudo indica, não voltará. Não há mais espaço para debates inflamados que acabavam em risadas, seguidas de muita flauta e muita cerveja.

Hoje nos dividimos em “Ele sim” ou “Ele não” e sequer conseguimos travar uma discussão com o grupo contrário. Já tivemos oportunidade e esgotamos as tentativas. Frustramo-nos.

Não se trata mais de opiniões diferentes e sem consequências. O que está em jogo agora é a nossa ideologia, a forma como enxergamos o mundo, a sociedade, o que queremos para o futuro. E estes conceitos, princípios e valores éticos não podem ser modificados com argumentos e debates febris.

As redes sociais ganharam papel de destaque neste embate. Através do Twitter, Instagram, Facebook e Whats App, surge todo o tipo de comentaristas políticos, defensores desta ou daquela posição e até romancistas/contistas ficcionais. As fake news circulam com a maior desfaçatez entre as tantas notícias surrealistas do nosso quotidiano. A pandemia do SARS-Covid, acirrou o confronto. Agora temos sub-grupos: os prós e os antivacina, os com ou sem máscara, os aglomeradores e os que mantém distanciamento social. E nem a ciência e as estatísticas se prestam a desmanchar dogmas.

A verdade é que não há diálogo possível entre os dois grupos. Falamos apenas com os que pensam como nós, como um monólogo. Argumentamos sem oposição. Compartilhamos e comentamos notícias e opiniões apenas entre os nossos pares. Talvez para não nos sentirmos sozinhos e muito para nos sabermos sãos.

Cervejas e risadas, sim, mas, de minha parte, sem sair da bolha.

1 comentário em “As bolhas não são mais de sabão”

  1. #elenao
    Mas a bolha me fez pensar… As de sabão se rompiam facilmente, e a nossa?
    Obrigada Vivi por mais um texto profundo e instigante.

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