Arlequim

E então, lá estava ele sentado naquele banco da Praça da Alfândega. Olhava ao seu redor como quem quisesse algo diferente, extraordinário talvez.

De repente, algo lhe chama a atenção. A poucos metros de distância um mímico, parecendo um arlequim, entretém as crianças. Seu olhar captura a situação.

Como que captando a energia de seu observador, aquela figura enigmática dirige-se até ele. Seus olhares se cruzam e, como num passe de mágica, nosso observador vê-se em outro lugar. Ops, o lugar é o mesmo, o tempo que mudou.

Roupas, pessoas e aromas diferentes. Até o idioma não parecia o mesmo. Assustou-se. Neste momento a figura misteriosa lhe chama através dos gestos de seus braços e mãos. Sem questionamento, segue-o.

Lado a lado saem do Largo da Quitanda dirigindo-se para a Rua da Praia até chegarem à Rua dos Sete Pecados Mortais, com suas sete casinhas da luz vermelha. Encantado com a magia do lugar e suas mulheres espalhafatosas de batom em vermelho carmim, esquece-se do surreal de tudo que está vivendo.

Continuam a caminhar pelas ruas do Cotovelo, do Riacho e dobram na rua da Varzinha. Após alguns passos, novamente mudam de rumo, dobrando à esquerda na rua de Belas depois à direita na rua do Arvoredo, principalmente no trecho chamado beco do céu, onde, novamente, as moças de vida fácil faziam seu comércio.

Nessas alturas, nosso viajante em seu estupor não conseguia saber se estava sonhando ou vivendo uma experiência de viajar no tempo. Via com olhos de curioso mulheres, homens e crianças, com trajes incomuns. Carroças puxadas a tração, negros descalços, alguns amarrados, outros amedrontados, mulheres extravagantes, bêbados e sujeiras por todo canto. Os esgotos a céu aberto inalavam um cheiro fétido no ar. Mas mesmo assim estava encantado com tudo. Não sabia o que estava acontecendo.

O trajeto continuou pelas ruas General Paranhos, Formosa, da Ladeira até chegar ao ponto de partida de toda essa história: Largo da Quitanda.

Sentou-se, novamente, no mesmo banco onde tudo começou e, num estalar de dedos do nosso mímico, acordou do transe. Ou seria uma viagem? Ou um sonho? Não importa. O interessante, é que em seu colo pousava um livro com a História de Porto Alegre, comprado na Feira do Livro. Mais adiante, viu o arlequim atirando-lhe um beijo e dando adeus.

Levantou-se, foi embora e nunca mais soubemos dele.

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