Tinha sido um dia muito divertido. Depois de um passeio de barco pelos canais de Amsterdam, fomos pedalar pelas ruas como dois adolescentes. Cabelos esvoaçando ao vento esquecidos do tempo. Ele apesar de 14 anos mais velho, tinha os músculos bem fortes e ia na frente. Vez em quando olhava para trás com um sorriso matreiro, se gabando da sua força. Ao me ver fazendo um esforço enorme para acompanhar suas pedaladas vigorosas, diminuía o compasso para irmos juntinhos.
Como um estudioso de história contumaz, principalmente de como os povos se organizaram economicamente ao longo do tempo, vez por outra ao avistar uma edificação importante neste processo parava e me explicava tudo a respeito. Metade de mim ouvia e achava muito interessante aquela cabecinha curiosa e investigativa que com 77 anos conseguia guardar tantos detalhes interessantes da história em geral. A outra metade que gostava de viajar nas cores e formas se perdia nos pequenos detalhes da beleza de tudo que via, depois voltava e fazia perguntas para entender o que havia perdido.
Fiz uma viagem no tempo e fui pousar nas aulas de história que eram minhas preferidas também. A irmã Francina já conhecia meu olhar atento acompanhando sua narrativa. De repente meu lado avoado aflorava. Ela percebia e parava a aula. Quando dava por mim estavam todos olhando em minha direção. Então ela falava.:
– E aí Dona Denise como foi o passeio na lua.
Era uma gargalhada geral.
Mas no nosso passeio não aconteceu isso. O entusiasmo do meu amor em contar como a Holanda foi importante para o seu Recife não o deixava perceber minhas escapadelas para meu mundo paralelo.
Mais tarde fomos visitar uma linda igreja que avistamos lá do barco. Aí foi uma aula a parte. Ele sabia tudo a respeito da construção, do tempo que demorou, das guerras que entremearam, como se estabeleceram as relações de poder. Não preciso nem falar que meu pensamento ia longe, mas voltava rapidinho, porque ele é especialmente lindo falando com os olhos brilhando sobre a história deste nosso mundo.
Gostei muito desse texto! Minha irmã é criativa e imaginária