Adoro o mar

Penso, seguidamente, em concretizar planos, já desenhados e quase desbotados, de receber minha correspondência na praia. Não tenho dificuldade de adaptação e viver em uma pequena comunidade não seria novidade. Mesmo residindo em uma capital, meu diário de bordo de vida foi escrito em um bairro considerado, em época, distante da área central.

Na infância e adolescência, ir ao centro da cidade era considerado um passeio. As pessoas costumavam vestir-se como se fossem a um evento. Não existiam shoppings, as lojas de grifes ou populares eram de calçada, à semelhança das que ainda costumamos encontrar em grandes cidades europeias. E os cafés, confeitarias e sorveterias do Mercado Público e o famoso Chalé, bar e restaurante da Praça XV de Novembro, eram os locais preferidos onde, após as compras e caminhadas, descansava-se de “bater pernas”.

Os ventos sopraram levando com as estações e as nuvens o jeito de ser do centro da cidade. Não há mais necessidade de até lá se dirigir para realizar compras, pois além dos bairros terem sua própria infraestrutura, os grandes centros comerciais, em estilo norte-americano, oferecem serviços variados com lojas, áreas de lazer, entretenimento, alimentação e grandes estacionamentos. Os moradores do bairro Centro foram abandonando suas residências por conta das mazelas sociais instauradas nos arredores de suas moradas. Por um espaço temporal, o que era luxo virou lixo e degradação. Mas nada é para sempre.

A área central da cidade, identificada como Centro Histórico, alvo de estudos dos bens culturais de especial interesse histórico, social e arquitetônico, pouco a pouco foi sendo revitalizada. Teve na recuperação da Usina do Gasômetro, transformada em centro cultural, um marco na forma como nós, porto-alegrenses, vemos e habitamos este espaço. Tornou-se novamente um lugar atraente para se morar, exalando a sua elegância do passado.

Continuo a viver no mesmo bairro em que nasci, tão distante quanto antes, mas vou ao Centro Histórico semanalmente respirar cultura, pois isto tem em demasia naqueles arredores. Na famosa escadaria da Borges de Medeiros podemos apreciar exposições na maior galeria ao ar livre do país. Todas as terças-feiras, visito a Biblioteca Pública para assistir shows musicais de artistas talentosos no salão Mourisco, programação do Chapéu Acústico. Entrar no Theatro São Pedro é colocar o corpo e a alma no mais puro estado de admiração em uma das salas mais celebradas do país. Impossível citar e descrever todos os espaços de arte que podemos usufruir no centro da cidade alegre. Ao passar pela Praça dos Açorianos e ver, lá em cima, a torre da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, na Praça da Matriz, penso nos meus planos de mudança de endereço.

Eu adoro o mar. Mas amo minha cidade e seus espaços culturais.

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