Ação Rua

Vitória pulou da cama excitada com a expectativa do passeio de domingo. Encontrou sua mãe preparando o café, o seu preferido: waffle caseiro de nutella e morango. Mesa posta, vieram o pai e o irmão e tomaram café reunidos. Vestiram-se e saíram para aproveitar o dia de sol na Redenção. Pretinha, a schnauzer, foi também. Correram, comeram pipoca e vibraram com as bolhas de sabão que brilhavam e estouravam no ar. Finalizaram no Parquinho. Retornaram ansiosos pelo churrasco a ser preparado pelo pai.

Yasmin pulou da cama após mais uma noite de sono agitado, ouvindo o barulho que vinha dos casebres, homens e mulheres rindo, gritando, bebendo cachaça, alguns usando a pedra. Fora os que nem dezoito tinham, ingenuidade há muito perdida. Sua mãe dormia. De seu irmão mais velho, não sabia. Abriu a geladeira e nada encontrou. Foi até a associação comunitária da Vila Cruzeiro em busca de alimentos distribuídos por uma ONG. Ganhou um hambúrguer. Voltou para buscar seus irmãos mais novos, exceto Alisson, o bebê, levado para adoção. Comeram mais hambúrgueres, bolachas, ganharam balões e se divertiram com o palhaço. Voltaram para casa sem saber quando seria sua próxima refeição. Sua mãe continuava dormindo.

Em 2016, a UNICEF Angola divulgou, no YouTube, vídeo em que uma atriz de seis anos de idade é deixada na rua da cidade de Tbilisi, Geórgia, bem vestida. Os passantes param para lhe perguntar seu nome e endereço. Num segundo momento, mudam sua aparência para suja e maltrapilha. Colocam-na no mesmo lugar. Ninguém parece vê-la. Em sequência, a operação é realizada no restaurante de um Shopping Center. A menina bem vestida se aproxima das mesas e as pessoas brincam e conversam com ela. Apresentada mal vestida, é convidada a se retirar. A experiência não pode prosseguir porque a atriz ficou triste.

No nosso domingo, se Vitória e Yasmim, com a mesma idade da menina do vídeo, se perdessem nas ruas de Porto Alegre, o que aconteceria?

No ano de 2004, Porto Alegre, segundo levantamento efetuado pela UFRGS, tinha 637 crianças e adolescentes em situação de rua. Para enfrentamento dessa triste realidade, fruto de um trabalho integrado de Promotoria da Infância e Juventude, da Prefeitura, da Polícia Civil, da Brigada Militar, do Conselho Tutelar e de outras entidades, foi lançado, em 2006, o Ação Rua, projeto sob coordenação da FASC – Fundação da Assistência Social e Cidadania –, com o objetivo de realizar abordagens e propor alternativas para inclusão das crianças e adolescentes que fazem da rua sua moradia, bem como para prevenir que o façam. O trabalho é realizado por núcleos constituídos nas diversas regiões e se incorporou à cidade.

Respondendo à pergunta acima, se você encontrar crianças sozinhas, pedindo esmola ou apresentando vulnerabilidade, pode ter a mesma reação demonstrada na simulação feita pela UNICEF. Alternativamente, em Porto Alegre, pode ligar para o Ação Rua.

Telefones do Serviço Ação Rua (156 e 3289-4994).

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