Trágico tango

Eles foram parceiros durante décadas, fizeram um sucesso estrondoso, todo o verão durante

quase trinta anos se apresentaram no Teatro São Pedro. Sem grande mídia e sem propaganda, a

não ser a própria que eles bolavam. A cada ano, inventavam uma nova para divulgar o espetáculo

e que era basicamente o mesmo, em outdoors. Eva Sopher não admitia que se apresentassem em outro lugar, até pensaram em um espaço maior com menor temporada, mas desistiram.

Quem ía ver saía deleitado com a sintonia da dupla: era o côncavo e o convexo, a

panela e a tampa. Pura harmonia. Mesmo os cacos de improviso saíam melhor que a

encomenda, muito melhor do que aquilo que havia sido ensaiado. O espetáculo nunca era o mesmo. E o público cantava junto e interagia. E ao final os acompanhava pela rua ou até irem ao terraço do teatro, inesquecível, lindíssimo, emocionante. As pessoas costumavam ver mais de uma vez.

A Sbornia era uma ilha à deriva, navegando livremente pelos mares do mundo. Eu sempre pensava ser uma metáfora do Brasil, um país a deriva e que não conhece sua raiz.

Porém quem olhava este harmonioso espetáculo não sabia que não era bem assim. Os dois

artistas eram muito diferentes, um apreciava o clássico, o outro o popular e romântico. Na hora de escolher o repertório de músicas era sempre uma briga, às vezes difícil de contornar. Depois de anos chegaram a fazer uma terapia, como se fossem um casal, mais especificamente tratamento psicanalítico, sim senhor! Serviu para elaborar os conflitos e arredondar as arestas. Até o momento que, com o psicanalista, chegaram a conclusão que era momento de encerrar, o tratamento, não a parceria.

Seguiram por mais alguns anos, até que uma leucemia repentinamente levou um deles.

Difícil dor, para o parceiro, familiares, o meio artístico e os fãs. Uma tragédia pôs fim a este tango. Que não deixou de retornar depois, mas em outros moldes. Nunca mais o mesmo. Ficou

para sempre na memória de quem viu.

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