Tetê Lopes em foto de Anibal Elias Carneiro

Homem e Cão

Tetê Lopes

 

Cientistas fazem pesquisas para compreender quando e como, há milhares de anos, começou a relação dos humanos com os cães. Alguns entalhes descobertos na Arábia Saudita, representando homens e cães caçando juntos, levam a uma conclusão importante: a domesticação dos cães foi crucial para a sobrevivência de nossa espécie. Mas há hipóteses de que foram eles que nos domesticaram, quando se aproximavam dos acampamentos, à procura de comida. De início, o contato com humanos era evitado, afinal era uma espécie desconhecida e possivelmente perigosa. Com o tempo, os humanos passaram a aceitar a proximidade dos novos companheiros, que mostravam habilidades muito desenvolvidas, como identificar a presença de predadores e a proximidade de presas. A amizade teve início.

Foi um processo lento, podemos imaginar que há 13 mil anos o homem não era um ser civilizado, com moradia fixa, pronto a ter um animal doméstico. Ao longo de milhares de anos, os animais dóceis foram sendo selecionados para companhia, e os agressivos, preteridos.

O sentido mais apurado do cachorro é o olfato. Com 220 milhões de células olfativas, 100 mil vezes mais do que nós, eles têm diversos tipos dessas células, fazendo com que não só cheirem melhor, mas de maneiras que um humano não consegue imaginar. Os odores que entram pelo nariz são processados e convertidos em informações no cérebro canino.

Isso tudo eu estava lendo na revista, aproveitando o solzinho que enfeitava a tarde. Tirando os olhos do papel, percebi que se aproximava pela praça o velho homem que costuma passar por ali naquele horário, carregando o saco de latas para reciclagem, acompanhado de seus dois cães. Trabalho duro, mas ele encontrava disposição para brincar com os bichos, atirando uma lata à frente e encorajando-os a buscá-la, os três dividindo uma alegria descompromissada. Foi então que me rendi à constatação mais essencial, acima de todos os dados que acabara de aprender: na relação entre humanos e cães, há, de um lado, genuíno amor. Do outro lado, se não é amor, sem dúvida é algo muito parecido.

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