Sou filha de índio, criada na mata densa perto de um grande rio. A lua cheia iluminava a noite estrelada quando eu nasci. Meu pai olhou nos olhos de minha mãe e disse:
– Vai se chamar Tauane (Estrela).
Cresci brincando na terra. Quando me firmei nas pernas, me ensinaram a trabalhar. Desde então é o que eu faço todo o dia.
Com treze anos conheci Cauê — índio lindo. Casamos e erguemos nossa casa na beira da mata. Começaram a vir os filhos; em dez anos foram sete. Três não vingaram. Chovia sem parar e com a enchente o doutor não chegava.
Os outros cresceram e foram em busca de seus destinos. Ficamos só nós dois: Cauê e eu envelhecendo juntos. Deles, só notícias. De vez em
Quando, visita rara e dos netos, as fotos.
Caminho sem medo dos animais dentro da mata; eles já me conhecem e eu a eles. O barulho da passarada não chega a me atordoar. Estou acostumada.
O raiar do sol marca meu amanhecer; o entardecer, o meu descanso. Fico na lida sem queixas ou amargor, não conheço outro caminho. Mexer na terra foi o meu destino: plantar e colher. Começo a cansar.
Sinto-me envelhecida sem estar velha.