Solidão que nada!

Não é segredo para ninguém que a paixão anima e o amor enfeita a vida dos viventes.  Mesmo quem ainda não experimentou essas delícias, com certeza, já testemunhou seu poder de transformação. Todos nós já ouvimos ou dissemos, pelo menos uma vez: Fulana anda tão sorridente, deve estar apaixonada. 

Ou quando a constatação se dá, ainda que de forma menos usual, com relação aos homens: Fulano, depois que se apaixonou, sossegou.

É bem verdade que os sintomas da paixão e do amor são universais. O coração acelera, as mãos tremem e os dias ficam curtos e coloridos. A alegria de se ter com quem dividir sonhos e planos melhora o humor, a paciência e traz leveza. Sem diferenciar entre os sexos, o corpo emite sinais óbvios diante do enamoramento. Contudo, defendo que a suscetibilidade ou, pelo menos, o desejo de estar propenso à ocorrência do evento para homens e mulheres é deveras desigual. Basta apreciarmos, de perto, a conversa nos grupos.

Os homens quando reunidos, na maioria das vezes, falam sobre futebol ou outros esportes, carros, trabalho e política. Se o assunto for o sexo feminino, raramente tem relação com o sentimento. Em geral, é um discorrer sobre contornos, formas e beleza. 

No grupo das mulheres, quase sempre acontece o contrário. Fala-se de tudo um pouco, mas num dado momento chega-se ao tema favorito: a paixão, o amor, as expectativas de um relacionamento sério, inseguranças, ciúmes e por aí vai.

Acredito que a semente dessa diferença reside na infância. Aos meninos é ofertada toda sorte de brincadeiras: bola, skate, games, figurinhas. Tudo favorece a interação e parceria entre eles. Os meninos se bastam. Para as meninas, casinhas, panelinhas, bonecas, castelos, fantasia de princesa. Todas as propostas implicam a espera do amor, do príncipe, a construção da família como missão e condição de felicidade. 

O desencontro de expectativas nasce na infância e perdura ao longo da vida. Será que não deveríamos mudar o rumo da prosa? Valorizamos demais o príncipe inventado. Acabamos por crer que a mulher que não encontra um homem para chamar de seu fracassou na missão. Saímos desembestadas pela vida caçando o macho alfa que nos salvará da maldição de ser livre.

Não defendo a solidão nem tampouco menosprezo o valor de amar e ser amada. Contesto essa imposição como diploma de sucesso. Há outras descobertas pela vida tão sensacionais quanto ter alguém. Os homens dão provas disso diariamente. Aliás, chegam a ponto de repelir, fugir, recusar a chance de ter um compromisso. Quem de nós nunca ouviu: eu não quero nada sério? E pior, ouvindo isso, continuou a alimentar a espera pelo próximo encontro!

Já passamos da hora de aprendermos que solitário é quem do vazio se alimenta. 

A meta deve ser viver e amar a vida como a si mesmo. E se, de quebra, tiver um bem-amado para compartilhar, tem-se um tempero extra. Porém sua ausência não torna a vida insossa nem tampouco menos saborosa. Sejamos nós nossas melhores especiarias.

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