Saí do ar

Tem algumas coisas que eu não quero mais e isso está decidido. Já revirei por todos os lados, olhei de todos os ângulos e me convenci que não servem. Aquelas calcinhas que apertam, para não marcar o vestido, sabe? Nunca mais usarei, meu corpo não pode ser comprimido, esmagado, escondido. É o meu templo, é o que a casa oferece e, mais ainda, quero que todo mundo veja mesmo: corpo é instrumento, não é molde.

Seguido do mesmo abandono estão livros que não são envolventes. Quando o New York Times indica na contracapa possivelmente vou odiar. Eu insistia. Ora, se todo mundo gosta, a ponto de virar um best-seller, um filme, uma trilogia, por qual razão eu não termino esse livro? A resposta é simples: eu não preciso gostar do que todo mundo gosta e posso parar coisas pela metade. Temos o direito de desistir mesmo na antepenúltima página e isso é um conceito muito sério.

Claro que não sou assim tão decidida. Adoro o Poderoso Chefão e não consigo sequer dizer se o livro é melhor do que o filme. Pode ser uma exceção ou o encontro do cinema com o texto da maneira mais interligada que eu consiga perceber. Todo mundo é um pouco clichê. As naturalidades são substâncias muito particulares, e isso permite não sermos tão rotulares e engavetadores de pessoas e conceitos. Sou um pouco de muitas coisas juntas e definições são tão lindas no dicionário que permitem a vida fluida de novas interpretações.

Por fim, registro oficialmente que não esperarei mais as tuas ligações, nem as chamadas de vídeo com coreografias de dança de salão, nem o bom dia ensolarado com um convite para vir logo ou a companhia para ir ao cinema. Está oficialmente na lista das coisas que perdem a importância. Não me cabe mais o cansaço de te esperar como numa imensa e eterna fila para comprar um ingresso de um show que não tem data para acontecer. É como a bundinha do Laçador – pode ser muito mais interessante que a do Davi de Michelangelo, mas antes preciso apertar.

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