Robert Grace por Regina Lydia

Veritas

Regina Lydia Rodrigues Jaeger

O vinho é uma bebida milenar com uma rica história, possuindo vários significados e rituais. Usado em diferentes situações, seja de alegria ou de tristeza, de derrota ou de vitória, religiosas ou laicas. Mas cuidado, ele também pode ser revelador ao trazer à tona verdades não ditas… Tome com moderação!

Minha avó Branca, descendente de italianos, tomava o seu diariamente, hábito familiar que passou de geração em geração. Lembro quando alguém derramava o vinho sobre a mesa, por acidente, e ela exclamava: – Alegria, alegria! – Em seguida molhava os dedos no líquido, benzia-se como água benta e pedia a todos que fizessem o mesmo. Era um alívio para o desastrado, pois se transformava em algo bom, uma benção coletiva. Para as crianças o desfrutarem, ou participarem dos brindes, preparava um ‘suco’ com um pouco da bebida, água e açúcar. Mexia-se bem e estava feito o delicioso néctar – a gurizada lambia os ‘beiços’. Todos nós da família, claro, nos tornamos apreciadores de um bom vinho. E nenhum alcoólatra.

Quando olhei esta imagem de Robert Grace, com um pão carcomido e um cálice de metal, em uma atmosfera lúgubre, logo lembrei-me da idade média, onde os reis e rainhas costumavam usar este tipo de taças. Dizem que o vinho na época era turvo e o metal disfarçava este aspecto não muito agradável. E como bem diziam os romanos, in vino veritas, aproveitavam-se disso para descobrir segredos de estado e de alcova, embebedando seus possíveis informantes. Verdade revelada que por vezes doía ou até mesmo matava. Quantas conspirações foram feitas através de cálices de vinho? Quantas guerras declaradas ou findas? Casamentos feitos ou desfeitos? Um brinde selava muitos pactos. Inclusive alguns reinos foram perdidos, e outros ganhos por meio de um cálice de vinho envenenado. Crimes diversos encobertos pelo turvo néctar dos deuses.

E a bebida foi se tornando cada vez mais memorável, ganhando novos terroirs, além mar, novos aromas e sabores. E principalmente novos métodos de conservação que o deixaram translúcido, com características próprias a cada tipo de uva. Foram deixados de lado os cálices de prata e substituídos pelos de cristal que potencializam suas qualidades.

Hoje podemos nos deleitar com vinhos da mais alta categoria, ou mesmo com aquele que apenas nos agrade o paladar, sem ser o melhor, nem o mais caro. Mas que nos propicie, ao tilintar de nossos cálices, um brinde a vida, repleto de emoção e prazer: Tim-Tim, Cheers, Salute, Prost, Santé, Salud… Saúde a todos nós!

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