Renata Cardoso Vieira em foto de Betho Giordani

Evolução

Renata Cardoso Vieira

Bruna aproveita cada folga para fazer coisas que gosta. Um dia lê um livro, no outro vai ao cinema e quando o tempo está bom e o relógio colabora, senta sob a sombra de uma árvore para aproveitar a tarde. Os simples prazeres da vida na juventude.

A árvore de hoje não é das mais robustas: está sem folhas e algumas pessoas pensariam que está morrendo e se afastariam da sua sombra, mas não Bruna. Ela estica sua canga colorida perto do tronco e resolve deitar-se para observar o céu. Pensa consigo que tardes de outono são ótimas para fazer isso. Exatamente isso.

Deitada próximo ao tronco da árvore, Bruna observa o formato dos galhos e, sem planejar, começa a lembrar da sua aula de evolução. Nas manhãs de quarta-feira, o professor Paulo elucida como Darwin estudou os tentilhões em Galápagos e descobriu que os organismos mais adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência do que os menos adaptados, deixando um maior número de sobreviventes. Bruna sempre achou engraçado pensar nisso, afinal as pessoas não têm mais filhos como antigamente e ela mesma não conhece ninguém que tenha mais de três filhos, o que já considera um número absurdo. Contudo, se pensar em coelhos, a teoria faz sentido!

Bruna analisa que a árvore se ramifica da mesma forma que a evolução das espécies: a cada nó, um encontro de organismos num tempo e espaço; a cada ramificação, espécies que estão se especializando. Todo o ciclo da vida presente nos galhos de uma árvore. Bruna pensa que se o professor fosse esperto, a matéria poderia ser mais fácil de compreender e logo adormece.

Sonha com um navio de madeira, navegando pelo mar e pensa em quais as espécies fantásticas que encontrará. Tamanduás, gaviões, lagartos. Olha para seu colo e vê o caderno aberto, cheio de rascunhos de animais que desconhece e surpreende-se com um lápis na mão. Sente a plenitude da satisfação de perceber que o navio é dela e a pesquisadora é ela e as descobertas são o que ela melhor faz. Bruna deseja que o mundo seja seu e anseia pelas descobertas que estão por vir nessa viagem. Nisso sente um solavanco e, como se estivesse caindo, acorda, com uma bolada.

Demora alguns segundo para relembrar onde está. Na verdade, Bruna sente que não quer acordar. Devolve a bola. Aproxima-se mais da árvore. Vira para o outro lado e tenta retomar ao sonho. Por mais algumas horas quer desbravar os oceanos ao invés de pensar na prova de química. É mais divertido.

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