Olhares
Renata Cardoso Vieira
O sol arde na pele. Nada novo para quem trabalha à beira mar. As pernas cansadas dos caminhos do dia, urgem por uma folga. No fim só o que se quer é relaxar, respirar fundo e sentir o gosto amargo e frio de uma boa cerveja. Vejo os olhares das pessoas que estão na praia. Parecem sentir pena de mim aqui, sentado com o Fred e o Alberto, amigos de longa data. Mas me pergunto: quem é mais miserável nesse cenário?
Vejo diariamente as pessoas se matarem trabalhando em roupas que não são confortáveis, em horários que os levam para longe da família, em rotinas que esmagam seus sonhos. Tudo por dinheiro, conforto e poder. Trabalham diariamente sonhando em tirar férias e estar aqui onde estou, caminhando na praia. Quem é o mais louco? Eu que uso a roupa que quero, faço meus horários, converso com quem passa e posso desfrutar do mar e da brisa? Todos vocês que se vendem em ciclos de desgosto e cansaço buscando dinheiro para estar aqui no mesmo lugar que eu e desfrutar da minha rotina?
São quase palpáveis os sentimentos de alegria de quem foge da sua terra para conhecer os paraísos litorâneos e fingir ter paz por oito dias da semana a cada ano. Assim como são palpáveis as caras de repulsa de quem me julga. De quem tem medo do que desconhece.
Num passado não tão distante, talvez eu me importasse. Talvez me indignasse! Hoje, minha cerveja me basta.
Num passado não tão distante, talvez eu me importasse. Talvez me indignasse! Hoje, minha cerveja me basta.