Renata Cardoso Vieira em foto de Alexandre Eckert

Devaneios

Renata Cardoso Vieira

Ana andava pela cidade sem rumo. Pensava no que tinha acontecido e não conseguia organizar suas ideias. Como podia um dia começar tão bem e desmoronar tão rapidamente e sem nenhum aviso prévio?

Ao acordar tinha o trabalho dos seus sonhos, um amor com quem sonhar e planos para a viagem de férias que tanto ansiava… Com o passar das horas, não sobrara nada! O que poderia fazer agora? Como colocar a vida nos trilhos de novo?

Cada passo ecoava entre seus pensamentos sem ditar um caminho. Achou que caminhar ia ajudar a reencontrar um equilíbrio ou provar que os últimos acontecimentos não passavam de enganos. Ser traída já parecia uma piada de mau gosto, mas perder seu trabalho e sua independência, isso só podia ser carma, praga ou um pesadelo.

Ansiava por fugir, estar ao sol e quem sabe dormir até tudo voltar a ter algum sentido. Só que a cada novo passo, sua alma oscilava entre sentir-se paralisada e querer lutar, como a mesma oscilação de cores entre o sol e as sombras dos gigantes prédios da cidade. A angústia a cercava e não dava espaço para encontrar soluções. Quando foi que tudo começou a desmoronar? Como foi que não percebeu os sinais?

As perguntas acumuladas sufocavam assim como o concreto que a cercava. Queria caminhar para sempre, deixando de lado toda a loucura desse dia e os problemas com os quais teria que lidar. Sentia saudades de ser aquela menina sonhadora que não era mais. Não sabia se aquela menina se reconheceria na mulher que agora andava.

Mas também não haveria tempo de descobrir. Decisões deveriam ser tomadas. Explicações cobradas. Planejamentos reorganizados. Não havia mais tempos para devaneios. Não podia mais conversar com aquela menina, pois a pequena Ana não imaginava como era crescer.

Os passos cessaram e Ana respirou fundo. Ir embora não resolveria nada. Novos empregos se encontram! Bem no fundo já nem entendia o que a prendia naquele lugar. Comodismo? Dinheiro? Medo de recomeçar? Como foi que tudo ficou tão cinza? Agora a situação com o Carlos, fácil de resolver: não existiam opções, só o fim. E a dor de não ter previsto esse fim.

Como recomeçar? Ana olhou para o céu se perguntando: alguém saberia a resposta? Não teve coragem de dizer em voz alta seus devaneios. Olhou para trás e começou a voltar para casa.

Teria que encontrar as respostas pelo caminho.

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