O poder da arte
Maristela Rabaiolli
Ainda não estive em Nova York, mas você concordará comigo que não é necessário visitar fisicamente um lugar para conhecê-lo, certo? A arte em geral, seja ela veiculada no cinema, na televisão, na internet, ou em qualquer outro meio, pode nos levar a lugares nunca antes visitados, de forma que conseguimos apreciá-los com riqueza de detalhes. Por meio desses canais, podemos conhecer uma infinidade de coisas que estão no mundo. E até as que supostamente não estão. É o caso do céu e do inferno. O que se ouve sobre esses lugares é impressionante. No entanto, você conhece alguém que já os tenha visitado?
Mas quem já foi a Nova York sabe que a cidade é de encher os olhos, em todos os sentidos. A big apple, como é conhecida, exerce significativo impacto no planeta em muitas áreas: comércio, finanças, mídia, arte, moda, pesquisa, tecnologia, educação e entretenimento, por isso ela é considerada a capital cultural e financeira do mundo. Em seu território, de apenas 784 km², são falados cerca de 800 idiomas, isso faz com que ela seja a cidade com a maior diversidade linguística do mundo. Nova York abriga também o MoMA, um dos museus de arte moderna mais famosos e importantes da atualidade.
Não foi por acaso que o polonês Rafal Olbinski escolheu viver na grande metrópole e representá-la em suas obras. Na tela em questão, o artista apresenta Nova York sendo encoberta por densa nuvem. Sob a cidade, homens seguram compridas escadas. Parecem manifestar o desejo de alcançá-la antes que desapareça. No quadro, estão representadas as torres gêmeas, destruídas no fatídico 11 de setembro, o que nos faz refletir que tudo na vida é efêmero. Torres, pontes, cidades, impérios, tudo é finito. Mesmo assim, há quem mate e morra por dinheiro e poder.
Por ser o que é, Nova York é motivo de cobiça, logo, os homens desejam alcançá-la. Daí a simbologia das escadas. Nenhum artista cria uma obra sem um propósito. A arte pela arte não tem valor estético. Então, cabe a pergunta: o que Olbinski quer comunicar com sua criação? Qual recado ele quer mandar para seu interlocutor? Quanto a mim, que estou conhecendo sua obra pela primeira vez, tenho a impressão de que a mensagem é: muitos querem ter poder e dinheiro – que é o que Nova York representa atualmente – mas o esforço vale a pena? Qual é o preço que se paga pra se ter isso? Se a nós fosse dada a oportunidade de conhecer o céu e o inferno, talvez pudéssemos escolher onde gostaríamos de estar. Enquanto não pudermos fazer isso, fiquemos com a Arte, pois ela nos permite escolhas que talvez não faríamos na vida real. Eis o seu poder: nos levar para lugares (des)conhecidos sem nunca ali havermos estado.