Pássaro perdido

Pilcha me lembra a música de Marco Aurélio Vasconcellos e Os Posteiros, Pássaro Perdido, ganhadora da Calhandra de Ouro na VIII Califórnia da Canção Nativa. Como eu amava aqueles festivais. O primeiro que assisti foi o de 1978. Vibrei com a emoção do intérprete e senti a dor do índio flor de campeiro desgarrado na cidade grande.

Na época, sempre que vínhamos a Porto Alegre, encantávamo-nos com o gaúcho pilchado, altivo, olhar no horizonte, senhor do nosso solo. Na entrada da Avenida Farrapos, o Laçador flanava alheio ao tumulto do tráfego. Ignorava o desassossego dos passantes. De seu pedestal, mirava os pagos além das luzes, à espera do cavalo que não o deixaria na mão.

Quem chegava à Capital sorria com as boas-vindas dadas pelo Laçador; quem partia, sentia-se acompanhado por ele.

Mas eis que resolveram que o nosso monumento tinha de ser realocado para a construção de um viaduto. Por certo, atrapalhava o trânsito dos veículos. Vai ver sua beleza gerava congestionamentos. Transportaram-no para perto. No meu modo de ver, para muito longe. Chamaram o novo local de Sítio do Laçador. Parece até um controlador de voos, tão próximo está do aeroporto. Não flana mais: flanam aviões sobre sua cabeça.

Nosso gaúcho chegou até a ficar tristonho, doentinho, levaram-no para restauração. Hoje, banners com sua imagem ocupam o seu lugar. Será que voltará? O prefeito não quer. Talvez aproveitem essa crise de saúde para reposicioná-lo. Porém, onde?

Mexeram com nossos brios. Nosso gaúcho não é mais o mesmo, nem nunca será. Transformou-se, também ele, num pássaro perdido.

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