Ouro, copas, espadas e paus

Uma curiosidade me assalta: o que faz uma pessoa aparentemente sã construir um castelo nos dias de hoje? E vamos tomar como “dias de hoje” qualquer data do século XX em diante, para ficar bem amplo. Sem que eu tenha a menor ideia dos motivos, Porto Alegre tem os seus castelos. Sim, no plural, mais de um.

De fato, é uma loucura. Castelos, por definição, são casas de senhores feudais construídas para servirem, ao mesmo tempo, de fortificações militares. Grossas paredes de pedra, janelas pequenas, muralhas e torres se justificam para impedir invasões ou, vá lá, fugas – e aí ganham ares de presídios. Se você não está em constante litígio e amedrontado pelas circunstâncias, uma casa – ou até um palácio, se o plano é ostentar – farão mais sentido. Mas quem domina a mente humana?

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– Aristeu, o que são aqueles croquis lá na bancada de sua oficina, meu bem?

– Penélope, não espalha, ok? Vou construir um castelo para nós!

– Ah. E quando você diz um castelo, está querendo dizer… o quê, mesmo?

– Exatamente isso: um castelo.

– Posso perguntar por quê?

– Você não lê os sinais, doce Penélope… Você tem o coração de ouro. Nossa cidade ruma para a barbárie. Vamos nos proteger. Planejo até um fosso com ponte levadiça ativado por bluetooth. E uma torre de onde eu tenha uma visão estratégica de todo o perímetro. Nunca alguém nos pegará desprevenidos!

– Responde uma coisinha: não vai demorar muito para receber os motoboys com esse monte de encrenca?

– É. Vai, paciência. O xis-coração chegará meio frio.

– Isso é um saco…

– Pois é. Devo reconsiderar o plano?

– Pensando bem, não. Toca adiante. Nosso condomínio já tem portões, muros, um exército de seguranças em suas guaritas, câmeras, jardins, lago artificial… O castelo só completa a canastra.

– Novos tempos, Penélope.

– É o futuro, Aristeu…

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