Olhares

Como toda grande cidade, Porto Alegre divide-se em bairros, alguns com características bem marcadas, todos em constante transformação. Até agora, vivi em três.

Solteira, morei no apartamento dos meus pais no Bairro Santana, perto da Redenção, até hoje meu parque preferido, e do Hospital de Clínicas. Nele também está o Centro de Saúde Modelo. Pela proximidade aos atendimentos médicos, talvez, acolhe muitos idosos.

Casada, mudei-me para a Bela Vista, com seus lindos prédios ocupados pela burguesia. Usava o carro para quase tudo, inclusive para ir muito ao Iguatemi. Bons tempos! Hoje, existem mais lojas e restaurantes por lá. Abriram até uma Panvel na esquina da rua onde eu morava.

Divorciada, vivo no Bairro Floresta, o nome mais bonito. Encostado no Moinhos de Vento, tem agências bancárias, tabelionatos, clube, igrejas, centro espírita, restaurantes e lojas para todos os gostos e bolsos. Em tempos de home office, quase não preciso de carro ou de uber.

Quando na faculdade, com a turma, ao mesmo tempo em que frequentávamos os bares do Moinhos, fazíamos incursões ao Bom Fim, no Bar Ocidente e cercanias, e à Cidade Baixa, no Opinião. O Lola, para mim, era o máximo da diversidade. Meu primeiro namorado morava na Rua Sarmento Leite, perto da chamada Esquina Maldita. Nunca frequentei! Porém, desde que surgiu o Centro Comercial Nova Olaria, mesmo nos tempos em que se juntava aquela crowd nos finais de domingo, nunca deixei de assistir aos filmes do Guion e de dar uma passada na Bamboletras.

Cresci e vivo em um meio conservador por excelência. Mas minha alma livre e contestadora imagina como seria se logo cedo eu tivesse-lhe ouvido e seguido seus olhos. Será que subiria e dançaria nos balcões, como a Nega Lu? Conta-se que num de seus inúmeros shows performáticos e improvisados foi parar em cima da geladeira, cantando Aquarius, como no filme.

Nega Lu viveu o que quis. Ferveu o que pôde. Sua alma brilhante ganhou admiração e tornou-se imortal. Está gravada, em sua plenitude, em parede na Rua Lima e Silva, na Cidade Baixa. Lugar perfeito. Do alto, fita os passantes e parece perguntar: E tu, para onde olhas?

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