Oh! My God!
Nara Accorsi
Depois de um longo e rançoso inverno, Leila passou o primeiro domingo de verão na piscina do clube. tomando o merecido banho de sol. Com tudo o que ela achava que tinha direito: cadeira reclinável, colchonete macio, travesseirinho para a cervical. Perfeito. Passou protetor solar em todo corpo, detendo-se no rosto, embora ela estivesse usando “aquele” chapéu charmoso, abas largas, que comprara na última ida à Miami.
Deitou na espreguiçadeira depois de examinar o caminho do sol, confirmando que o bronzeado ficaria parelho. Fez sinal para o garçom e pediu um coquetel com espumante. Fechou os olhos, sentindo o calor penetrar até a última célula. Ali ficou, ouvindo a algazarra das crianças na água, os gritos, às vezes histéricos, das mães, e relaxou. Chegou o drink que saboreou com prazer. Sozinha, não tinha compromisso com marido; os filhos crescidos e soltos no mundo. Tempo de aproveitar.
O dia transcorreu entre um pouco de leitura, um cochilo, petiscos e drinks. O paraíso existia. Tudo tão perfeito! Todos tão gentis, sorridentes. No final da tarde, recolheu toalha, bronzeador e livro, calçou os chinelos e foi para o vestiário. Não havia ninguém. Deixou a sacola no banco e se dirigiu aos chuveiros. Chegando no reservado…Oh! My God! Um homem de costas – e que homem! – acabara de desligar o chuveiro. Diante do seu grito, o rapaz se virou espantado. Tapando as partes, disse constrangido, e ainda pingando, que ela tinha errado de porta. Aquele era o vestiário masculino.
Leila pediu mil desculpas e, aos trancos, saiu correndo envergonhada. Foi para casa com a imagem daquelas costas fortes, onde conseguiu, ainda em meio ao espanto, ler a palavra DEUS. O dia fora completo: passou pelo paraíso e ainda teve um encontro com Ele!