Na roda de oleiro
Vanessa Penz
Volto ao pó, choro de saudade, corro para te encontrar, o tsunami me pega e me joga, medo, acendo o cigarro, ainda quente, a ventania assopra e traz a enxurrada de galhos sós, ouço a batida do meu coração, acelera, derrete o barro, a pobreza, continua, persiste, minha alma canta, a mão esculpe o que a vida já me tirou, desespero, o sol queima minha pele, cigarro. De novo? Me jogo no mar, mas é apertado, é o poço de promessas que me acolhe, a grama cresce, endurece o barro, me consome, viro estátua, pau-a-pique, machucado, e a poeira sobre meus olhos, argila, ardida, fecho, abro, ficou frio, é delírio, ácido, doce, mãos percorrem teu corpo, acredito no que não vejo, ópio, ao toque, morte é pouco, acabou o ar, bateu, quebrou o barro, à meretriz meu amor chorou. De novo? A mão dança, molhada, da pele áspera, o que eu imaginei, na roda de oleiro, teu desassossego, febril, uma nova cor, forma o barro, fome, mentiras, sertão, o medo já não mais, iluminado, é o sol. De novo? Agora é bom, a brisa vem, tonteia, apaga a chama. Volto ao pó.