Mike Hodges por Regina Starosta

Picolé ou Casquinha?

Regina Starosta

Verão, três da tarde, muito calor. Pontualmente soa a corneta do sorveteiro na entrada daquela vila de casas nobres. A meninada sai correndo gritando: eu primeiro! Crianças e adultos o esperam, ansiosas, pelo picolé ou casquinha.

Mesmo horário, mesmo calor. Não tem carrinho nem corneta. O sorveteiro nem se atreve a entrar na viela do bairro pobre. Se tivesse chovido na véspera, o barro não daria passagem e, no seco, ficaria difícil. De qualquer forma, não tem dinheiro prá sorvete. A solução é a mãe fazer sacolé, refresca igual. Se algo for desnecessário, substituímos pelo similar. Dá-se um jeitinho.

E de jeitinho em jeitinho a sociedade só acordou quando encontrou à sua frente uma muralha intransponível.

O Coronavirus, que deixou de joelhos um país inteiro rezando por uma solução. Mexeu com a vida de todo mundo, foi um Deus nos acuda. É um vírus estranho vindo da China; uma doença esquisita sem antecedentes. Foram criados hospitais de emergência, pois, a morte não respeita ninguém; pobre ou rico. Não serve mais o jeitinho. Os jornais, as rádios e as televisões transmitiam, sem parar, o que estava acontecendo. Todos, muito assustados, não paravam de procurar notícias. O 9governo decretou quarentena; muitos nem sabiam o que era isso. Houve corrida aos supermercados. E se faltasse comida? O ministro da saúde dava reportagens diárias e ensinava o povo como lavar as mãos.

A quarentena trouxe a paralisação da indústria e do comércio. Houve desemprego em massa. A ameaça da fome levantou uma onda de solidariedade geral. O povo é generoso e o governo decretou um auxílio de emergência. Criaram-se, por todos os lados, grupos de apoio aos necessitados. Famílias que passavam fome toda sua vida, também entraram na lista dos desassistidos.

Os meses estão passando e as pessoas vão se adaptando a novas rotinas. Cientistas de todo o mundo, inclusive do Brasil, se debruçam nos microscópios, a procura de uma solução milagrosa. Encontrar a vacina salvadora. Já estamos quase em outro verão. Com o ano que virá teremos um “novo normal”.Vamos nos ajustar como fizemos agora. O que importa é manter a moral alta e não perder a esperança.

E aí, vai um picolé ou uma casquinha?

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