Mãozinhas

Creio que todos nós, que pudemos ser bem alimentados na primeira infância, tivemos mãos gordas. Melhor, mãozinhas gordinhas. Estas mãos com as costas cheinhas e os pontos de junção dos dedos afundados. Dedinhos.

E qual mãe, e talvez qual pai, não beijou mãozinhas assim? Algumas, mais apaixonadas, maravilhadas, antropofágicas, podiam mordê-las.

Coisa boa não passar fome, e ter as mãos assim por tempos. Quanto tempo? Não sei.

No meu caso não deve ter sido muito tempo. Desde os primeiros momentos que tenho consciência de mim mesmo, eu havia me tornado uma criança magra, com braços e pernas finas. Logo, as mãos não poderiam ser grossas.

Até quando foi isso no meu filho? Possivelmente até uns três ou quatro anos de idade. Quando o filho passa por primeira infância e os pais estão às voltas com trabalho, com a luta do dia a dia, a gente não se apega a esses pequenos detalhes.

Ou se apega.

Minha prima Jussara teve sua única filha depois dos trinta. Por uma dessas infelicidades da vida, desenvolveu câncer de mama quando essa filha era muito jovem, talvez minha priminha em segundo grau tivesse cinco anos. Uma das frases da Jussara que me marcou foi justamente dizer que estava notando que a filha estava perdendo os buraquinhos nas junções dos dedos.

Naquele momento minha prima se apegou a detalhes que, no meu tempo, deixei passar.

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