Laçada

A tradição, cultura e história de uma nação refletem a alma e o comportamento do povo que lá habita. Elas são o esteio da sociedade que criaram, formam a sua memória e fazem parte da identidade de cada cidadão.

Através dos valores adquiridos em decorrência de todo esse conjunto, somos moldados e temos uma direção a seguir, firmes em tudo aquilo que aprendemos em nossa caminhada e que nos foi transmitido de geração em geração.

Uma das coisas que mais apreciava na minha infância e adolescência, era a bela e diferente paisagem natural e urbanística de Porto Alegre, de ônibus, quando vinha passar férias com meus familiares gaúchos. Ao me aproximar da cidade, de longe avistava a imponente estátua do Laçador. Símbolo da força e segurança rio-grandense.

Porém, hoje, o Laçador, está caído, derrubado. Não aguentou o tempo, tem que ser restaurado. Encontra-se preso e amarrado em uma enorme mesa. Tive um misto de sentimento. Vivemos atualmente num mundo em constante mudança. Nem todas são para melhor. Dormimos de um jeito e acordamos de outro. O certo virou errado, o errado virou certo. Dizem que tudo é relativo, que a verdade não existe. Haja muita força de vontade para “não se perder por aí”.

Embora nascida nessa terra, daqui saí muito pequenina, por razões que não cabem nesse curto espaço descrever. Tornei-me “cariúcha” e para cá retornei, pois como todo gaúcho que se preza, sempre fui “bairrista”. Acabei me encantando por um conterrâneo que esbarrei numa paquera, em plena praia de Icaraí em Niterói, RJ. Os olhos se cruzaram, os sinos do coração tocaram e aquele sotaque forte, sensual e vibrante, mais o vigor do auge de seus 19 anos, me seduziram por completo!

– Você é gaúcho? Perguntei com a voz trêmula e cheia de emoção para não dizer outra coisa, já que os hormônios daquela idade extravasavam por todo o corpo.

– Sim. Como sabes? Ele me respondeu com uma piscada de olho. Fiquei rubra e arrepiada.

Não preciso dizer mais nada. Fui finalmente “laçada”. O resultado dessa história é que namoramos, noivamos, casamos e retornamos para Porto Alegre e aqui formamos nossa família. Criamos raízes numa terra que já nos pertencia desde muito tempo. Somos gaúchos, tchê!

Aliás, raízes é que não faltam. Aprecio a tradição do Rio Grande do Sul, sua colonização, lutas e guerras para ser valorizado como um povo cheio de dignidade, brio e respeito. A figura do gaúcho típico de botas e esporas, tomando chimarrão, dando-nos as boas – vindas e laçando-me, como quem diz, “venham, não tenham medo. Somos fortes. Nada vai nos derrubar”, ficará guardado eternamente na minha memória e ainda serve como exemplo de força a ser seguido.

1 comentário em “Laçada”

  1. Maria Luiza Falcão Gomes

    Belo texto! Essa amiga querida surpreende sempre com suas histórias alegres, verdadeiras e muitas vezes engraçadas.

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