Joyce Kitchell por Felipe Anselmo Olinto

O desjejum da minha vida (inteira)

Felipe Anselmo Olinto

O aroma vem na leve brisa que entra pela janela da sala, uma mistura do frescor do campo ainda úmido e do cheiro do pão recém saído do forno, do café, do leite fresco. Me chega enquanto deitado, nu e ainda envolto nos lençóis, únicas testemunhas da nossa noite.

Tenho na minha boca teu gosto, no meu corpo teu suor e na mente a sensação de êxtase, a percepção de que nossos momentos se repetem de forma inebriante. Viagens, experiências, pessoas – a vida e sua infindável generosidade.

Embalado pelo aroma, recordo das longas caminhadas na primavera, conversas sorvidas como se a terra não mais girasse, as pessoas não mais existissem, e as árvores e as flores dos parques fossem a moldura do nosso mundo. Nosso único e exclusivo mundo.

Escuto meu nome sendo chamado ao longe, como naquela vez que ao nos distanciarmos, me chamavas para o reencontro. Abraço forte, beijo e nossos corpos em fusão.

Agora sou chamado com mais vigor.

Me transporto à beira mar, quando te divertias gritando meu nome para acompanhar tua disparada. Teus passos largos deixavam gotas da água salgada em meu rosto.

Meu corpo é sacudido com intensidade.

Tenho a sensação de estar entrando num túnel, sinto frio, desconforto, mas caminho em direção ao outro lado, a pouca luminosidade e a névoa me fazem trôpego.

Josenildo! Josenildo! Acorda!!!

As crianças choram, não há pão, não há café, não há leite, apenas a mesma panela escura, que sobre o fogo aquece a água…

Me alço, giro, e ao colocar meus pés no chão sinto o frio e a umidade.

O cheiro é intenso, não se move, está impregnado nas tábuas do pequeno espaço que vivemos, me acompanha desde o primeiro dia de vida…e estará comigo até o último.

Minha cabeça não anda boa…tive um sonho estranho…

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