Jefferson Escobar em foto de Marcelo Leal

Canalha

Jefferson José Rodrigues Escobar

Caminhava extasiada pela praia. Sentia-se livre.

A tarde começara normal. Sim, como sempre era no fim de semana. Preparava a salada, o marido assava a carne e bebia todas. Comeram sem qualquer ritual. A filha no celular, o marido tonto de tanto álcool. A louça era pouca. O que poderia fazer? Convidou a filha para comerem um sorvete. Ela recusou, sem tirar os olhos do celular. Foi sozinha. A sorveteria estava vazia àquela hora. Sol quente e as pessoas almoçam mais tarde no domingo. A princípio, não notara, o homem moreno à sua esquerda. O som de música do celular chamou a sua atenção. Trocaram olhares e sorriram. Não o olharia duas vezes se fosse outra situação, mas, por alguma razão, resolveu olhar de novo. Ele a olhou também. Um olhar de desejo. Sim, algo que não via há tempos. O sexo com o marido era automático, dois beijos protocolares, subia nela, alguns movimentos, resfolegar, descer e começar a roncar. Sabia o que era prazer, já sentira inúmeras vezes, mas, com o tempo, essa necessidade passou. Perdera o interesse. Às vezes, sentia um certo desejo, mas olhava o marido e desistia. Não valia o esforço. Perguntava-se se deveria tentar. Pensava que parte disso tudo era sua culpa. Naquela sorveteria, naquele momento permitiu-se sentir. Tentar.

O olhar autorizou a aproximação. Observou que ele estava sem aliança física, mas tinha a marca causada pelo sol. Apresentaram-se, sabia que aquele não era seu nome. Ele convidou-a para uma caminhada. Conversa sem compromisso. Risos. Beijo roubado. Tudo correndo. Não pensava. Entra no carro. Que perigo. Do carro para o motel e ver-se sem roupa, sentindo arrepios, foi em um segundo. Onde estava? O que estava fazendo? Loucura? Não. Liberdade. Sentia frio, calor, lábios e língua em locais proibidos, pênis em locais não pensados. Vários gozos. Perna mole. Gozo de novo. Grande gozo. Exaustão. Ela queria descansar. Não. Nova rodada. Aguentaria? Sim. Aguentou.

O parceiro, desconcertado e exaurido, de bruços. Escorregadia, ela levanta-se. Toma uma ducha rápida, veste o short, camiseta e olha-se no espelho. Sente-se linda. O homem percebe, vai para o banheiro, ducha, vestir-se. Saem em silêncio. Ela pede para ficar próximo da sorveteria. Despedem-se com um beijo singelo. Discreto arrepio.

A caminhada na praia a estava recompondo.

Chega em casa. A filha segue no celular e com fones de ouvido. Não sente sua falta. O marido ronca no quarto. Também não sente sua falta.

 

Canalha 2

Jefferson José Rodrigues Escobar

A mulher veio com a história de que a mãe, em Frederico Westphalen, tinha que consultar. Alegria. Livre na praia por uns dois dias. As crianças, melhor, adolescentes, ou estavam dormindo ou no celular. Não podia demonstrar contentamento. Ao contrário, devia causar confusão. – Que saco, alugaram a casa no único período de folga que ele tinha. Por que não marcaram essa consulta para março? O inútil do irmão não podia levar a própria mãe ao médico?

A mulher se despede chorando e pedindo desculpas. Sai logo depois do almoço. Liberdade. Vai para o centrinho da outra praia para ver se consegue alguma aventura. Nem tocara na comida para dar um toque a mais no seu drama.

Chega na sorveteria. Liberdade até para comer bobagem. Olha para o lado e a vê. Hum, bronzeada, pernas torneadas, mais para cheinha, como ele gostava. Casada. Se dá conta que ele está de aliança. Tira e põe no bolso.

Começa a mexer no celular. Ouve seus toques para ela o perceber. Trocam olhares. Ela parece tê-lo visto. Fica encarando-a. voltam a se mirar. Aproxima-se, começa o papo furado. Pode avançar um pouco. Convida para uma volta. Ela cede. Papo vai, papo vem. Tasca-lhe um beijo. Sente que pode avançar em alta velocidade. Toca para o motel. Maravilha. Bem melhor que pensava. Um baita corpão. Toda serpenteada. Se joga num sexo oral. Gozo intenso, várias vezes, avança mais, põem a camisinha, sexo vaginal, mais gozo. Sua em bicas. Nem lembraram de ligar o ar condicionado. Última barreira, sexo anal. Não resiste. Há muito não gozava assim. Cai morto de bruços. Desmaiou ou dormiu? Percebe o movimento. Banho rápido. Vestem-se. Silêncio. Deixa-a perto da sorveteria.

Volta para casa. O carro da mulher está na frente. Pensa rápido em uma desculpa. Fecha a cara para manter o clima de desagrado. Ela vem feliz para dizer que tinha obrigado o irmão a levar a mãe. Que usara os argumentos que ele tinha dado. Estava muito feliz e agradecida. Nem perguntou onde ele estava.

Os filhos começam a acordar. Um deles vem e dá um abraço. Sentam-se para jantar. Quando vai se servir, percebe que ele está sem a aliança. A esposa também.

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