Jefferson Escobar em foto de Betho Giordani

A Outra Margem

Jefferson José Rodrigues Escobar

Acorda cedo, coloca a chaleira no fogo e começa seus afazeres. Arruma a cama. Recolhe as roupas para lavar. Faz rápida e automaticamente a ladainha diária porque quer ter tempo para o chimarrão, antes de cortar cebola, alho para o almoço. Não sabe por que se apura. Tem todo tempo do mundo até as crianças chegarem da escola e o marido voltar do trabalho. Mas esse ritual de sentar e olhar o rio, que não é rio, a árvore seca no outono/inverno, verde e cheia de vida na primavera/verão, a faz sentir-se parte. E ser. Ela olha e sente-se retribuída. Parece bobagem, mas isso é para ela e dela. A chaleira começa a chiar, serve e sorve o mate. A máquina de lavar apita, avisando que está pronta a roupa.

Gosta de chegar antes. O silencio era um cobertor para ele. Parece que tudo tem um ritmo lento. Não aquele frenético da chegada dos colegas. Cheio de novidades, fofocas, comentários extraídos da rede social. Prepara o café, primeiro do dia, sem açúcar e forte. Não está queimado como os seguintes. Tem cheiro. Senta no seu escaninho de costas para o computador, de frente para a ampla janela, no alto do prédio. Olha o rio, que não é rio. Não consegue ver a árvore, mas ela está lá. A fumaça do café no vidro, traz uma paz não sentida no resto do dia. No plim, a porta do elevador se abre. Duas moças descem falando alto e animadamente.

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