Para aqueles que não sabem, Armando Câmara cursou Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, atual Faculdade de Direito da UFRGS, formando-se em 1925. Apreciador da vida acadêmica, ministrou aulas de direito e filosofia na faculdade em que se formara, chegando a ser reitor. Alguns anos depois participou da fundação da Faculdade Católica de Direito, tendo sido o primeiro reitor da PUC-RS. Em meados de 1954, elegeu-se Senador pela frente democrática, coligação formada pelo PSD (Partido Social Democrático), UND (União Democrática Nacional) e PL (Partido Libertador). Em abril de 1956, renunciou ao mandato.
Falar do solar dos Câmaras é entrar no túnel do tempo sem data de retorno, por conta das diversas histórias que esse casarão guarda entre as paredes.
Recordo-me, quando criança, de ir ao solar para visitar meu tio avô, último morador daquela casa cercada de lembranças, fantasmas e segredos. Meu pai, como havia cursado Direito, adorava trocar ideias com o quase mito Dr. Armando. As conversas eram intermináveis, pelo menos era o que eu e meu irmão achávamos. Já minha mãe ficava entre a conversa e a observação para o caso de os filhos aprontarem.
Evidentemente que criança quer correr e explorar o ambiente. Era exatamente isso que fazíamos. Ah, mas sem correr, – dizia minha mãe. Então, a passos largos, mas sem correr, íamos visitar o quarto das meninas – era um quarto sem janelas pois na época as moças casadoiras não podiam flertar e nem serem cobiçadas. Quanto maior a pureza, melhor seria o partido, sem esquecer que contraiam matrimonio por volta dos quinze anos. Aquele quarto, me dava arrepios. Já o melhor quarto da casa tinha uma porta envidraçada que se abria para um pátio maravilhoso, com uma cadeira de balanço e um chafariz.
Aquele solar sempre foi estranho para mim, pois a cozinha ficava nos fundos e tinha-se que atravessar toda a casa. Sem contar o “quarto de banho” que, obviamente foi construído bem depois da construção original – em 1818, e ficava depois da cozinha.
Mas o mais intrigante, assustador e misterioso, era o relógio de pêndulo, bem no meio da sala. Diziam que ele era de uma precisão suíça. Cada badalada representava uma hora. Dez horas, dez badaladas. Existe uma história sobre ele, que até hoje não sei se é verdade ou mais uma lenda urbana. Segundo contam, quando esse relógio para, é para anunciar o falecimento da algum membro da família. Pelo sim, pelo não, até hoje não quero ver as horas naquele relógio.
Hoje, esse lindo solar faz parte da história de Porto Alegre e, graças aos causos, sempre é bom visitá-lo.
Belo resgate histórico da nossa capital. Parabéns