Guy Billout por Altino Mayrink

Desencontros

Altino Mayrink

Participar de cada momento que a vida nos apresenta é quase um vício. Eu não sei se conseguiria viver sem experimentar, sem me testar, sem estar em condições de escolher a cada momento. Adrenalina pura. Minha mãe diria: “isso explica muitas coisas…”.

Há momentos que são marcadamente mais relevantes e, geralmente, os que menos damos atenção. Quando pensamos que estamos na beira de um abismo e não podemos dar mais um passo adiante, vem a vontade inexplicável de se jogar, acreditando na possibilidade de um mar infinito para nos receber de braços abertos. E as esquinas sem iluminação que insistimos em dobrar quando os monstros de nossa infância se tornam apenas escritos em um bom livro de fantasia e ficção. Tudo é excitante e colabora para que apaguemos os sustos que porventura se mostram mais presentes do que se queria.

Estive há pouco visitando um desses momentos, não pela primeira vez, em um relacionamento. O coração abraçando todos os perigos e tobogãs de sentimentos. A razão fincando âncoras na experiência e algemando os movimentos e silenciando as palavras que deveriam ser ditas.

Como não temerário e bucaneiro de sempre, o cérebro sobrepujado, larguei-me aos sentimentos e encarei as intempéries da relação. Como toda batalha, houve muitas perdas e diversos danos. Não saí ileso e tampouco insatisfeito. Verdadeiras adversidades nos fazem mais fortes, mais presentes e aumentam o autoconhecimento.

E os amigos podem estar pensando: “por que esse cara não aprende com todos essas desventuras e suas consequências?”. Posso dizer sem medo de errar: eu vivi, eu fiz, eu realizei. Fui eu que me responsabilizei por todas as feridas e todas as curas que elas exigiram. Se em algum momento rolei ribanceiras, rastejei e corri por espinheiros, foi em nome de ser, de garantir que estava e vivia, sem restrições! Não me arrependo de nada.

Todos temos uma experiência que ficou para trás, que não foi completada, que não deu resposta satisfatória, que nos exigiu demais e nos contribuiu com menos. É dessa que vou falar.

Ela é a mulher mais linda que possa existir – nenhuma miss, é claro –, com um sorriso brilhante, olhos felinos hipnóticos, uma voz que só se ouve no paraíso. Cada movimento penetra na minha visão e desperta as vontades mais escondidas. Seus carinhos são inebriantes dos quais não se pode evitar. Encontrá-la, em meu caminho tão sinuoso e sem metas fixas, foi um prêmio de loteria.

Tudo levava a crer que haveria um encontro excepcional, duradouro e com possibilidades infinitas. Mas tudo terminou abruptamente, em uma curva qualquer da vida, com as palavras trepidantes que saíram de sua boca: “como você não votou nele?”.

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