Quando Rosana recebeu pelo correio uma foto, com um simples bilhete: “lembras deste dia”? — e foi logo procurar nos seu arquivos muitas outras que mereciam ser guardadas. Entre tantas, estava aquela, tirada do convés de um vapor. Mostrava uma fileira de armazéns no cais do porto, tendo ao fundo o
Gasômetro. Estava esmaecida pelo tempo. Ficou olhando, enquanto as lembranças afloravam. O coração bateu forte. Foi no dia em que ela conhecera Oscar. Há anos não sabia dele, tinham ficado somente amigos.
Um encontro casual no casamento do tio. Após a festa foram todos engalanados, no cais do porto, acompanhar o par, recém – casados, no seu “bota fora” para a lua de mel.
Até a década de 1940 fins de 50, Porto Alegre ainda tinha hábitos provincianos. As pessoas usavam navios ou barcos a vapor, simplesmente, “vapor” . No cais do porto, os armazéns cheios de mercadorias e nas docas movimentava-se a grande parte da economia do estado.
O uso do avião deu um salto de qualidade na estrutura da cidade. Os costumes mudaram e o porto entrou em declínio.
Atualmente, existe o movimento de revitalização do cais do porto que, quando for concluído, colocará Porto Alegre em níveis internacionais.
Rosana continua a observar a foto. Decididamente hoje é o dia das reminiscências.
Lembra a menina adolescente, visitando uma amiga num apartamento, na rua Duque de Caxias, perto da Catedral. Ela só conhecia fogão a lenha e olhava, com curiosidade um fogão a gás, combustível que era produzido no magnífico prédio construído para este fim – o Gasômetro.
Ele fica à beira do Guaíba, na cidade baixa e sua chaminé, de 117m, é umas dos símbolos da cidade. O projeto era levar gás para uso doméstico através de canalização.
O gás canalizado não deu certo. O prédio, desocupado, por muito tempo serviu para projetos culturais. Com o passar do tempo foi se deteriorando e agora, finalmente, está em reconstrução.
Rosana guardou as duas fotos na caixa. Pensativa, ficou com a pulga atrás da orelha. Por que só agora Oscar havia lembrado dela? E, com que intenção?