Soraia Schmidt em foto de Mau Saldanha

Eudorico

Soraia Schmidt      

O preto e branco torna tudo mais igual. Têm uma beleza sutil, uma profundidade que nos leva para além da beleza das cores. Luz plena e ausência de luz. Contrastes que dão forma e significado.

O velho Eudorico fez uma pausa e sentou-se no parque. Mergulhado em seus pensamentos parece digerir algo mais que o palito pós-refeição. Olhar perdido para o dentro, ignora as cores do entorno. Imerso, olha, quem sabe, para o seu preto e branco, para o preto e branco da vida.

Há uma intensidade no ar que o rapaz da câmera captou. Com o olhar para fora, ele viu o de dentro. Deu-lhe visibilidade revelando-o pela ótica do olhar sensível.

O velho e o rapaz da câmera. Cada um em seu momento. Ambos diferentes, mas sendo expressão da mesma coisa. De um sentimento que nos irmana e nos força a enxergar que somos todos iguais. Uma sensibilidade comum que clama por nos mostrar que somos universais. Temos a mesma condição de ser, humanos. Ambos expressando a vida. Ambos numa troca.

Não podemos pausar o tempo mas podemos pausar no nosso tempo. Deixar-se ficar naquela magia de quando a vida parece parar e estar inteira na brevidade de um momento. Revelado em um click. Sentir a vida na plenitude de sua indelével simplicidade. Cada um da sua altura.

Eu, você, o velho Eudorico, o rapaz da câmera.

Todos tocados pela pungência do viver.

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