E restam seis

Eram amigos inseparáveis. Desde a infância, mesmo bairro, mesma escola, mesma turma. Assuntos não faltavam. Silêncio não fazia morada. A afinidade era tamanha que optaram pelo mesmo curso universitário. Por estudarem juntos, todos ingressaram no vestibular. Todavia, tiveram que se mudar da pequena cidade que testemunhou a leal amizade. Rumaram para longe. Para custear as despesas com aluguel, alimentação e os dispêndios da vida adulta, cada um tratou de conseguir um trabalho informal, contanto que pudessem manter-se unidos e na faculdade.

Certo dia, o avô da Christine adoeceu repentinamente. A estudante estava com dificuldade para comprar passagem. Quando, enfim, amealhou o suficiente para o deslocamento, a “ceifeira”, como diziam, havia se antecipado. Desnorteada com a inesperada perda e tomada de incredulidade perante aos acontecimentos do pacato município, resolveu que era o momento do retorno célere dos amigos. Os cinco estavam a mais de 2.000 quilômetros de distância e atenderam ao apelo de Christine, apreensivos com o que estavam prestes a tomar conhecimento. Como formandos do último semestre de Meteorologia, ao desembarcarem na cidade, perceberam de imediato.

Havia uma nítida mudança: o clima estava penosamente quente e úmido. A região estava localizada abaixo da zona serrana, cercada de rios e ladeada por morros. Era previsível que uma tragédia se avizinhava. Procuraram as autoridades alertando sobre grandes tempestades ciclônicas que, além de um intenso volume de chuva, incidiriam sobre o rápido aumento dos rios, causando desastre climático.

Indubitavelmente, os jovens não foram somente ignorados, mas, também, serviram de chacota. Em menos de seis horas, as precipitações torrenciais iniciaram, não sendo possível salvar lavouras, animais e vidas…Uma calamidade anunciada, desprezada, porém. Em dias, cidades foram tomadas pelas enxurradas. Famílias inteiras foram vitimadas, juntamente com seus lastros. No desespero para ajudar, os amigos pegaram o antigo barco, outrora companhia de pesca, para tentar socorrer pessoas e animais. Infelizmente, à medida que a chuva diminuía e comportas eram abertas, o lamaçal avançava e tomava conta dos lugares que abrigavam casas, fazendas, praças.

Da pequena cidade, só restaram os seis amigos.

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