Na suavidade de suas asas, ele veio planando e pousou num simples galho. Fino, sem estabilidade e na água. Não caiu. Não se permitiu a isso.
Fiquei a fitá-lo num misto de magia e perplexidade. Nos olhamos. Nos entendemos. Nos amamos no pouco instante da nossa cumplicidade antagonicamente dolorosa e harmônica.
Senti sua luta diária de uma vida efêmera e curta. Chorei. Enquanto ele mexia sua cabeça para cima para baixo, como que entendendo e conhecendo toda a minha vida. Minhas lutas, tristezas, alegrias e sonhos.
Virou-se como se estivesse admirando o horizonte. Aquele que se desfruta em todos nós. Talvez não todos os dias, mas de uma forma ou de outra, se manifesta.
Piou, Piou e piou. Era como se estivesse cantando uma música só nossa. Não a reconheci nem a entendi. Mas não importava porque o momento era único e particular.
Me olhou pela última vez antes de partir. Entendi que era seu último voo. Estava indo para outro mundo, mas precisava me dar um adeus.
E então partiu. Deixou comigo a esperança e a beleza da vida, e levou consigo minhas mágoas e tristezas.
Senti-me leve. Também levantei de onde estava e caminhei porque não tenho asas, mas meus passos flutuavam sobre o gramado molhado, me fazendo lembrar que tenho um longo caminho a trilhar antes de dar meu último passo.