Douglas Smith por Altino Mayrink

Muito lixo

Altino Mayrink

Somos todos feitos de produtos e lixos.

A vida vai sendo formada dos pequenos esforços que fazemos para amadurecer e gerar alguma coisa que efetivamente nos enobreça, nos alegre e nos faça eternos. Desde a mais tenra idade necessitamos de aceitação e de elogios que nos mantenham com vontade, que nos ajudem a ser determinados. Mas o que mais deixamos pelo caminho, dentro de nós mesmos, são os detritos, as aparas desses constructos, e as sensações de frustração que recolhemos pelo caminho.

Periodicamente precisamos fazer a descarga desses dejetos. Reunimos tudo em um conteiner, quiça em um caminhão, para que vão o mais para longe que possam ser levados. Aí aparece a ilusão, descobrimos que não é tão fácil despejarmos esse entulho em qualquer lugar. Nem mesmo conseguimos fazer com que essa viagem inicie. Nos vemos sem saída. Não há um caminho sequer para realizar o descarte.

A culpa é mesmo nossa. Enquanto vamos ficando estacionados em nossas mesmices e rotinas, tentando construir um mundo seguro e perfeito, formam-se muros e paredes, quase intransponíveis. A segurança do lar, o emprego meia boca que nos sustenta mas não nos agrada, os divertimentos vazios de alegrias efêmeras, tudo isso nos força a estacionar, a criar amarras, a ancorar de uma forma que a única saída seja sossobrar, afundar em mais e mais do mesmo lixo.

Se posso dar algum conselho a quem quiser ouvir, não deixe acumular essa sujeira. Produza sim, mas com respeito a sua ecologia e ao mundo que o cerca. Pois eu já estagnei, e está difícil me limpar.

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