Ele sempre foi ligado ao campo. Nasceu em Soledade e lá viveu até os 20 anos. Seu pai tinha uma pequena fazenda com gado leiteiro e ele, o mais velho dos filhos homens, o ajudava nas tarefas diárias. No entanto, por problemas financeiros, tiveram que vender. E a família viu-se obrigada a deixar o campo e vir para um grande centro onde pudessem trabalhar e seguir a vida.
Mas o campo nunca o deixou.
Sempre que podia, ele retornava. Lembro de irmos, nas férias dele, passar uns dias na fazenda de um tio em São Gabriel.
Lá havia, entre tantas outras, uma árvore enorme, uma aroeira. Nos nossos passeios, quando passávamos perto dela, ele dizia:
– Bom dia dona aroeira! Não me passe sua coceira.
E eu, minhas irmãs e primos, rindo daquela frase esquisita, não deixávamos de seguir à risca aquela crença. Sempre dizíamos esta frase toda vez que passávamos por aquela linda, mas temida, senhora.
A aroeira é conhecida por causar alergia nas pessoas. E nem é preciso encostar no tronco ou nas folhas, basta passar embaixo. Principalmente no período da floração. Ele, certamente, sabia disso e sempre nos orientou a ficar longe dela.
Estas são recordações de uma infância feliz que ele nos proporcionou.
E hoje penso o quão difícil foi aquela mudança de vida. Sempre gostou do campo.
Quando se aposentou, comprou um pequeno sítio nos arredores de Porto Alegre e lá tentou resgatar a vida que tanto amava. No terreno, por incrível que pareça, havia uma aroeira. Então, ele seguia repassando sua crença, ensinando seus netos a como portar-se diante daquela árvore.
Fico pensando, como estará o sítio nos dias de hoje? A aroeira segue altiva? Certamente segue assim na minha memória.