O silêncio do rio
Dio Santanna
O silêncio do rio. Não se sabe silêncio, apenas é.
Ela transbordava como o rio. As paixões carregam silêncios que não se souberam ser. E são. Como o rio, depois de chuvas intensas. Quando parece não dar conta de tanto existir.
Como nascente que vem de longe, ele transbordava nela. Contornava suas margens, onde a alma se alimenta. E a mente se inquieta.
Era para ser rio.
E inundar. Todos os contornos. Os caminhos sinuosos. “Nada sei de ti e do teu inquieto amor”. E pensando não-saber, mais a inundava. A alma há tanto apequenava-se. Ausente de si.
À beira de sua própria margem, foi palavra sentida. E foi mais. Encontro dela com ela mesma. Um amor quando nos devolve a nós mesmos, transcende o que pensávamos ser. E somos.
O rio e a beleza do efêmero. Não há como não pulsar com os seus silêncios. Adentram e revelam. E a dor não seja apenas dor. Encontrar na quietude um refúgio. E ser mais.
O rio não se esgota nele mesmo. E sempre será. Sem ser apenas e simplesmente. Essa plenitude que escapa aos olhos e flui. Essência pura quando alguém nos sabe é arrebatadora. Quando a alma deixa-se ver. Mostrar-se sem subterfúgios. Não há fuga possível. Não há margem que o contenha.
Olhar a desaguar. Não dá para deter a força das águas de um rio. As almas se reconhecem mesmo que a razão grite não. Transbordam.
Ele a sabia. Sem nem saber.
O silêncio do rio. Não se sabe silêncio, apenas é.